Bolsonaro chega a 41% dos votos válidos e vantagem sobre Haddad sobe para 16 pontos

Para liquidar disputa no primeiro turno, Bolsonaro precisaria herdar 64% de todos os chamados "votos azuis" (apoio hoje dado a Alckmin, Amoêdo, Alvaro Dias e Meirelles). No segundo turno contra Haddad, situação é de empate técnico.

SÃO PAULO – A dois dias do primeiro turno, a vantagem do líder Jair Bolsonaro (PSL) sobre o segundo colocado Fernando Haddad (PT) na corrida presidencial dobrou. Segundo pesquisa XP/Ipespe, o deputado saltou 8 pontos percentuais em uma semana e agora tem 36% das intenções de voto. Já o ex-prefeito paulistano oscilou positivamente de 21% para 22%, patamar duas vezes superior ao do terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), estacionado em 11% há três semanas. Votos em branco, nulos e indecisos agora somam 12% do eleitorado. O levantamento foi feito nos dias 3 e 4 de outubro e foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o código BR-06509/2018.

No segundo pelotão da disputa, juntamente com Ciro, aparece Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano oscilou negativamente 1 ponto e está 3 p.p. abaixo de seu maior patamar registrado ao longo da corrida. Os ex-governadores estão em situação de empate técnico, no limite da margem de erro, de 2,2 p.p. para cima ou para baixo. Já Marina Silva (Rede) foi de 5% para 4%, menos de 1/3 do que teve em seu melhor momento na disputa. Logo atrás, aparecem o empresário João Amoêdo (Novo), com 3%; o senador Alvaro Dias (Podemos), com 2% – mesmo patamar do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB); e o deputado Cabo Daciolo (Patriota), excluído do último debate, com 1% das intenções de voto. Outros candidatos não pontuaram.

Quando são contabilizados apenas os votos válidos (desconsiderando votos em branco, nulos e eleitores indecisos), Bolsonaro tem 41% das intenções de voto, o que indica que ainda faltariam 9% para que se configure um quadro de vitória no primeiro turno. Isso significa que até o próximo domingo (7), o parlamentar teria que herdar 64% de todos os chamados "votos azuis" (apoio hoje dado a Alckmin, Amoêdo, Alvaro Dias e Meirelles) ou 50% ta soma do campo azul com as intenções de voto de Marina Silva. Neste caso, Haddad tem apoio de 25% dos que declaram voto em algum candidato, seguido por Ciro, com 13%.

No cenário espontâneo (quando os nomes dos candidatos não são apresentados aos entrevistados), Bolsonaro aparece com 33% das intenções de voto, enquanto Haddad tem 16%. Ciro Gomes vem logo atrás, com 9%, seguido de Alckmin, com 4%, Amoêdo e Marina Silva, ambos com 2%. Alvaro Dias, Meirelles e Daciolo têm 1% cada. Neste caso, Bolsonaro tem 48% dos votos válidos e precisaria de 25% dos "votos azuis" ou 20% da soma deste campo com as intenções de voto de Marina Silva. A pesquisa espontânea é útil como ferramenta que mostra o grau de cristalização de apoio dos eleitores a cada candidato.

O levantamento XP/Ipespe também mostrou que, a dois dias do primeiro turno, o nível de interesse pela eleição presidencial chegou a 64% do eleitorado. Agora, 43% dos entrevistados se dizem muito interessados, enquanto 23% afirmam estar mais ou menos interessados no processo. Há um mês, a soma desses grupos representava 52% do eleitorado. A faixa de eleitores que se diz desinteressada com o processo está em 20%, o que pode indicar uma ativação tardia e decisão de voto de parcela relevante durante o sprint final ou até uma tendência de abstenção, o que na prática elevaria as chances de Bolsonaro liquidar a disputa sem necessidade de segundo turno.

Confira os cenários de primeiro turno para a corrida presidencial testados pela pesquisa:

Pesquisa espontânea: sem apresentação de nome dos candidatos aos entrevistados

Pesquisa estimulada: com a apresentação dos nomes dos candidatos aos entrevistados

 

Segundo turno

Foram testados cinco cenários de segundo turno nesta pesquisa. Em eventual disputa entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, o quadro ainda é de empate técnico, mas com o deputado numericamente à frente por 43% a 42%. Em relação ao último levantamento, o parlamentar cresceu 4 pontos percentuais, enquanto o petista oscilou 1 p.p. negativamente. O grupo dos "não voto" agora soma 15%. Em abril, Bolsonaro chegou a contar com gordura de 11 p.p., enquanto na semana passada Haddad apareceu pela primeira vez à frente, com vantagem de 4 p.p., no limite da soma das margens de erro dos candidatos.

Em eventual disputa entre Alckmin e Haddad, o quadro seria de empate técnico, no limite da margem de erro, com o tucano numericamente à frente com 40% das intenções de voto contra 36% para o petista. Votos em branco, nulos e indecisos agora somam 24%. Em nenhum momento o ex-prefeito paulistano liderou as simulações.

No caso de enfrentamento entre Alckmin e Bolsonaro, o cenário também é de empate técnico, com o tucano voltando a aparecer mais forte numericamente, com 44% das intenções de voto contra 42% para o deputado. Brancos, nulos e indecisos somam 15% do eleitorado. A diferença entre os candidatos chegou a ser de 7 pontos percentuais a favor do parlamentar na quarta semana de maio.

Se o segundo turno fosse entre Ciro e Alckmin, o cenário também seria de empate técnico, com o pedetista numericamente à frente por 36% a 33%. Brancos, nulos e indecisos somariam 31% do eleitorado. É a quarta vez que Ciro aparece numericamente à frente na disputa. Na semana passada, ele tinha 4 p.p. a mais que o ex-governador paulista. Em nenhum momento um dos candidatos teve vantagem superior ao limite da soma das respectivas margens de erro, mas na maior parte do tempo Alckmin liderou.

Caso Bolsonaro e Ciro se enfrentassem, o pedetista venceria com 44% das intenções de voto, contra 39% do parlamentar. Brancos, nulos e indecisos somariam 18%. Há cinco semanas, o ex-governador contava com vantagem de apenas 2 pontos percentuais. Ciro chegou a ficar 8 pontos à frente na semana passada. Bolsonaro esteve em vantagem numérica na maior parte do tempo, mas em quadro de empate técnico. Apenas nos dois primeiros levantamentos, realizados em maio, ele vencia com diferença superior à soma das margens de erro.

Rejeição aos candidatos

A pesquisa também perguntou aos entrevistados em quais candidatos não votariam em hipótese alguma. Marina Silva lidera o ranking da rejeição com taxa de 75%, em um salto de 7 pontos percentuais em comparação com a semana anterior. Em um mês, foi um salto de 13 p.p., a maior elevação em repúdio registrada entre os principais candidatos.

Logo atrás aparece Fernando Haddad, rejeitado por 65% do eleitorado – crescimento de 5 p.p. em relação aos percentuais registrados nas últimas duas semanas. O petista é seguido de perto por Geraldo Alckmin, que viu sua taxa subir de 61% para 64% em uma semana.

Já Bolsonaro viu sua rejeição oscilar negativamente em 1 p.p., ficando em 59%. Antes do ataque a facada sofrido em Juiz de Fora (MG) há um mês, o deputado havia alcançado seu maior nível de repúdio entre o eleitorado: 62%.

Ciro Gomes, por sua vez, é repudiado por 58% dos eleitores, contra 55% de Álvaro Dias. O senador, porém, é desconhecido por 22%, contra 5% registrados do lado do pedetista. A trajetória dos índices de rejeição dos principais nomes nas últimas sete pesquisas está na tabela abaixo:

FONTE: XP/IPESPE

 

 

Com a liderança de Bolsonaro e o crescimento de Haddad, pleito caminha para a polarização

Katia Guimarães para Jornal do Brasil

Com o presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, à frente das pesquisas de intenção de votos, e a alta do movimento #ELENÃO, que se manifesta contra o ex-capitão abertamente, as eleições de 2018 podem ganhar características de um plebiscito, que é a consulta popular em que o eleitor vota sim ou não sobre um determinado assunto. O cenário político também ganha outra dimensão quando o pleito se afunila e se dirige para a polarização com o rápido crescimento do candidato do PT, Fernando Haddad, apenas dois anos depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff. “A eleição esta caminhando para um plebiscito, uma eleição plebiscitária, o sim ou não, o nós ou eles”, diz o cientista político, André César, da Hold Assessoria Legislativa.

O “risco Bolsonaro é real” e há a chance de ele ganhar por uma margem apertada. O atentado sofrido pelo candidato que o tirou da campanha nas ruas teve impacto sobre o eleitor. O discurso pró-Bolsonaro e o tom raivoso antipetista nas redes sociais aumentaram. Mas o temor em vê-lo no comando do Brasil chegou à imprensa internacional e levou a influente revista britânica ‘The Economist’ a estampar o presidenciável em sua capa com a manchete “Jair Bolsonaro, a última ameaça da América Latina”.

Graças à transferência de votos do ex-presidente Lula, principalmente no Nordeste, Haddad tornou-se o principal adversário de Bolsonaro (Foto: Pedro de Paula/AE) Diante de um cenário eleitoral tão inusitado, as próximas pesquisas serão decisivas para apontar se o eleitor brasileiro lançará mão do chamado voto útil já no primeiro turno. Esse tipo de voto acontece quando os eleitores que não querem jogar seu voto fora votando em um candidato que não tem chances de vencer. Ou, como agora se desenha, para evitar que um certo candidato ganhe, o eleitor deixa de apoiar seu candidato para votar em quem tem mais chances de derrotar quem não quer ver eleito. Tanto no eleitorado de esquerda quanto na direita, há a discussão de fazer uso do voto útil para Haddad e Bolsonaro.

Segundo o cientista político, Antônio Lavareda, há uma expectativa com base teórica e vivenciada em outras eleições de que o voto útil será exercido. Guardadas as devidas proporções, as eleições deste ano fazem lembrar os pleitos de 1989, quando Fernando Collor se colocava como o outsider e ganhou do petista Luiz Inácio Lula da Silva, e de 2014, quando Dilma Rousseff venceu o senador Aécio Neves, do PSDB, por menos de 4% dos votos válidos. Naquele ano, a candidatura de Marina Silva desidratou quando havia uma perspectiva de vitória do PT. Segundo Lavareda, “vaticinar” que o voto útil vai acontecer é difícil pois, assim como nas eleições de 89, hoje há uma fragmentação de candidaturas, enquanto que no pleito passado a disputa foi basicamente entre três nomes.

No primeiro turno você vai com a sua convicção e no segundo turno vai no menos pior. Polarizou tanto que os dois lados estão olhando um por outro. ‘Então vamos fazer um hedge, uma proteção já de cara pensando no menos pior para evitar que o outro lado

Vença’”, diz o cientista político André César ao comentar o comportamento do eleitor. “Não está comprovado porque tem o fator Ciro, mas está caminhando para isso, vamos ver as próximas pesquisas”, completa referindo-se ao candidato do PDT, Ciro Gomes, que na pesquisa Datafolha, foi o único a crescer e chegar mais perto de Fernando Haddad, enquanto Marina e o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, viram seus votos caírem.

O desfecho das eleições depende ainda de alguns fatores para saber se o voto útil se dará entre Bolsonaro e Haddad. Um deles é se a trajetória de crescimento do petista vai continuar. Olhando para as pesquisas, segundo Lavareda, o teto de alta do ex-prefeito é ainda de cerca de 45%. Haddad tem que “fechar” o eleitorado do Norte e Nordeste e conquistar o eleitorado feminino, refratário a Bolsonaro e receoso em relação a Ciro, além de buscar o eleitor de baixa renda. O ex-prefeito conseguiu conquistar espaço na esquerda, principalmente no eleitorado de Ciro e da candidata Marina.