Inflação e combustíveis ameaçam retomada eleitoral de Bolsonaro, diz Lavareda para o Estadão

A inflação, turbinada com a alta recente do preço dos combustíveis, é a maior ameaça para o desempenho do presidente Jair Bolsonaro nas eleições e pode reverter sua recente recuperação nas pesquisas de intenção de voto. A avaliação é do o cientista político e presidente do Conselho Científico do Ipespe, Antonio Lavareda, ao Broadcast Político. Na entrevista, Lavareda avaliou também que candidatos da chamada terceira via só vão ter chance se concentrarem artilharia em Bolsonaro, e não se contrapondo ao presidente e a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao mesmo tempo.

O QUE BOLSONARO E MORO GANHAM OU PERDEM COM UM EVENTUAL ‘DIVÓRCIO’

Para analistas políticos, o presidente se equilibra entre duas opções que podem lhe trazer ganhos e prejuízos

Mariana Schreiber para revista Época 24/01/2020 – 18:26 / Atualizado em 24/01/2020 – 18:51

A turbulenta relação entre o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro mais popular, Sergio Moro, que comanda a pasta da Justiça e da Segurança Pública, teve um novo momento de desgaste nesta semana com a sinalização de que o ministério poderia ser desmembrado.

Após a reação negativa em sua própria base eleitoral à ideia, que reduziria os poderes de Moro, o presidente recuou, mas sem rechaçar completamente a possibilidade de criar um ministério exclusivo para a Segurança Pública no futuro.

“A chance [de tirar a Segurança Pública do ministério de Moro] no momento é zero. Tá bom ou não? Tá bom, né? Não sei amanhã. Na política, tudo muda, mas não há essa intenção de dividir [o Ministério da Justiça]. Não há essa intenção”, disse a jornalistas nesta sexta-feira (24), ao chegar a Nova Délhi, para um vista à Índia.

Para analistas políticos, o presidente se equilibra entre duas opções que podem lhe trazer ganhos e prejuízos: manter Moro como um ministro com muito poder e visibilidade, correndo o risco de ser desbancado por ele como candidato preferido dos apoiadores do governo na eleição presidencial de 2022; ou desidratar Moro e assumir o risco de uma demissão do ministro, atraindo contra seu governo a ira dos eleitores “lavajatistas”, fiés seguidores do ex-juiz da Lava Jato.

“O que estamos vendo é uma TPE, tensão pré-eleitoral”, brinca o cientista político Antonio Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Moro constantemente nega ter pretensão de disputar a eleição presidencial e, em entrevista ao programa Roda Vida na segunda-feira, chegou a dizer que apoiar a reeleição de Bolsonaro é o “caminho natural” para os ministros do governo. Hoje, porém, é grande a desconfiança no mundo político de que a hipótese esteja descartada.

“Quando Moro aceitou abandonar a magistratura para entrar no Ministério da Justiça, ele obviamente abraçou a política. Com a popularidade que tem, é praticamente impossível para um ser humano não ser mordido pela ambição da mosca presidencial”, afirmou Lavareda.

Apesar da popularidade, Moro constantemente nega ter pretensão de disputar a eleição presidencial Foto: RAHEL PATRASSO/REUTERS
Apesar da popularidade, Moro constantemente nega ter pretensão de disputar a eleição presidencial Foto: RAHEL PATRASSO/REUTERS

Segundo o professor da UFPE, a eleição de 2018 foi, no linguajar da ciência política, uma “eleição crítica”, ou seja, um pleito que desarrumou todo o quadro partidário, gerando grande expectativa em relação à eleição seguinte.

Ele notou que a desarticulação atingiu em especial a centro-direita brasileira, enquanto o PT conseguiu “a duras penas” se manter como principal força da esquerda. Por isso, disse, é no campo eleitoral do presidente em que se abre com mais antecedência a disputa em torno das candidaturas eleitorais.

Nesse cenário disputado, em que também despontam como possíveis candidatos da direita ao Palácio do Planalto os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), e o presidente do Novo, João Amoedo, o professor da UFPE considera que Moro e Bolsonaro têm mais a perder do que a ganhar se decidirem se separar.

Para Lavareda, Moro teria de apresentar “justificadas razões” para deixar o governo depois de ter abandonado a posição de juiz da Lava Jato para ser ministro. Isso, notou o professor, necessariamente o colocaria na oposição ao governo, ainda que no campo da direita.

“Moro se beneficiaria da condição de opositor do governo Bolsonaro? Eu suspeito que não, pois no campo da oposição já há outros atores muito mais bem instalados do que ele. E o Bolsonaro se beneficia provocando uma saída do Moro? Longe disso, porque o Moro é um ativo, é um asset da imagem do seu governo”, analisou.

“Como acredito na racionalidade de ambos, creio que vão continuar essa relação às vezes idílica, às vezes conflituosa. Para usar a metáfora que o presidente gosta, é um tipo de namoro de tapas e beijos”, acrescentou.

MORO QUASE FOI DEMITIDO EM AGOSTO, SEGUNDO LIVRO

Um dos momentos em que os “tapas” esquentaram ocorreu em agosto, quando Bolsonaro quase demitiu Moro, segundo relato da jornalista Thaís Oyama em seu livro recém-lançado: Tormenta — O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos.

Naquele momento, Bolsonaro teria ficado extremamente irritado com um pedido de Moro ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, para rever sua decisão de suspender centenas de investigações e processos no país iniciados a partir do compartilhamento de informações da Receita Federal e do antigo Coaf (hoje renomeado para Unidade de Inteligência Financeira).

STF decidiu em novembro sobre o Coaf, o que permitiu a reabertura da investigação sobre Queiroz Foto: SERGIO LIMA/AFP
STF decidiu em novembro sobre o Coaf, o que permitiu a reabertura da investigação sobre Queiroz Foto: SERGIO LIMA/AFP

A movimentação desagradou Bolsonaro porque a decisão de Toffoli havia atendido a um recurso de um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), paralisando a investigação contra ele por suposto esquema de “rachadinha” (desvio de recursos por meio da retenção de parte dos salários de servidores) em seu antigo gabinete de deputado estadual do Rio de Janeiro.

Naquele momento, também causou desgaste na relação a ameaça de Bolsonaro de intervir na Polícia Federal e trocar o diretor-geral, Maurício Valeixo, escolhido por Moro. Segundo Thaís Oyama, o presidente recuou e decidiu recompor com o ex-juiz depois de ouvir o alerta do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional: “Se demitir o Moro, seu governo acaba”.

Após a publicação do livro, o presidente rebateu as informações e as classificou como “fake news”.

Outra fonte de desgaste entre os dois tem sido o desentendimento em torno de matérias aprovadas pelo Congresso, como a criação do juiz de garantias, que Bolsonaro não quis vetar, apesar da campanha de Moro nesse sentido.

‘MORO DEVE CONTINUAR ENGOLINDO SAPOS’

O cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP), disse ter dúvidas sobre se foi positivo para a imagem de Moro ingressar no governo Bolsonaro. Em sua avaliação, ao aceitar o ministério, “pareceu que muitas coisas que ele fez (quando era juiz da Lava Jato e condenou importantes políticos tradicionais, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) estavam ligadas à possibilidade de favorecer esse governo”.

No entanto, agora que já é ministro, Moisés acredita que Moro alimenta, sim, pretensões de concorrer à Presidência e não vai querer abrir mão de uma posição que lhe dá prestígio e visibilidade.

“Tendo aceitado o cargo de ministro da Justiça, enquanto não houver uma ruptura muito radical (como o desmembramento do ministério), ele vai tender a continuar engolindo sapos, porque o cargo é muito prestigioso. Não há a menor dúvida em relação a isso”, afirmou.

“Tirar a área de Segurança e a Polícia Federal do Ministério da Justiça seria muito mais grave do que outros momentos de discordância entre os dois. Compromete qualquer projeto que o ministro tenha de efetivamente combater a corrupção e a criminalidade”, ressaltou.

O profesor da USP acredita que Bolsonaro recuou, ao menos por enquanto, da ideia de dividir a pasta, para tentar manter o apoio dos “lavajatistas” a seu governo.

No entanto, o professor acredita que o prestígio do presidente com o grupo já está desgastado, diante do escândalo envolvendo seu filho Flávio e das noticiadas tentativas de interferir na Polícia Federal.

Um rompimento de Moro com Bolsonaro poderia fechar as portas para uma eventual indicação do ex-juiz ao Supremo Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS
Um rompimento de Moro com Bolsonaro poderia fechar as portas para uma eventual indicação do ex-juiz ao Supremo Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS

INDICAÇÃO AO STF PODE UNIR INTERESSES

Lavareda considera que Moro pode acabar parecendo “desleal” para a sociedade caso decida concorrer à Presidência contra Bolsonaro. Além do risco de parecer um “traíra” mais à frente, o prejuízo que o ex-juiz pode ter se romper agora com o presidente é fechar as portas para uma indicação a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro poderá apontar um ministro em novembro, quando o decano da Corte, Celso de Mello, completará 75 anos e será obrigado a se aposentar. O presidente sinalizou que indicará um jurista “terrivelmente evangélico” para a vaga, o que não é o caso de Moro.

No entanto, uma segunda vaga será aberta em julho de 2021, quando o ministro Marco Aurélio também se aposentará.

Se Moro aceitar uma indicação ao Supremo e seu nome for aprovado pelo Senado, ele abriria mão de uma candidatura presidencial em 2022 — não faria sentido entrar na Corte para renunciar meses depois e disputar a eleição.

“No horizonte de Moro, há várias possibilidades e uma delas é a de uma vaga no STF, mas isso vai depender das condições no momento em que a vaga for aberta e precisa ser negociado com o Senado”, notou Lavareda.

“Isso é um movimento disponível para o presidente Bolsonaro e para Sergio Moro. Num determinado momento, mais adiante, pode até ser um movimento de confluência de interesse dos dois”, ressaltou o professor da UFPE.

Vamos salvar a Previdência

Só maluco torce para que o avião em que se está viajando caia; e o Brasil sem a reforma não vai voar
26.fev.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA

Um cara entrou no elevador outro dia e me disse: “Bom dia”. Eu respondi: “Se aprovarmos a Previdência, será um bom dia”. Peguei um táxi no aeroporto, e o motorista me perguntou: “Para onde vamos?”. Eu respondi: “Se não aprovarmos a Previdência, vamos para o brejo”.

Enfim, nos próximos meses, no elevador, no táxi, no artigo da Folha, na reunião de condomínio, no bar com os amigos, eu, você e qualquer pessoa de direita, centro e esquerda, mas com juízo, deve lutar para aprovar a reforma da Previdência.

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O Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebe das mãos de Jair Bolsonaro a proposta da reforma da Previdência – Luis Macedo – 20.fev.19/Câmara dos Deputados

O governo já enviou sua proposta ao Congresso Nacional, e agora cabe o debate democrático em torno dela. Só não cabe mais, no meu entender, aquele papo de dizer que é a favor da reforma, mas não desta, e aí acabamos sem reforma alguma. Não há mais tempo para isso.

A reforma é decisiva para a economia decolar. Já se calcula que US$ 100 bilhões estão para serem investidos no Brasil, mas esperam a aprovação das mudanças. Ninguém quer investir num país que pode quebrar mais à frente.

O Estado brasileiro está sufocado por déficits monstruosos. Os governos de turno

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não conseguem investir onde deveriam, como saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, habitação…

Os dados não são novos e são bem conhecidos. Todo o mundo que chega ao governo é a favor da reforma, mas, quando está na oposição, fica tentado a fazer proselitismo com o eleitorado, brincando com fogo.

Eu inclusive acho errado o tema ser reforma da Previdência. O professor
disse algo que nunca esqueci —não se trata de reformar a Previdência, mas de salvar a Previdência.

Sem salvar a Previdência, não vamos conseguir pagar aos aposentados. Estados liderados por governadores de todos os partidos sabem disso. Estão quebrados ou a caminho de quebrar e não conseguirão custear obrigações básicas se seguirmos desse jeito.

Não é uma medida fria, liberal. É uma medida humana, difícil às vezes de entender, embora as pesquisas mostrem que a população cada vez mais entende a reforma.

Os empresários, em vez de comodamente jogarem a reforma no colo e na conta do governo e do Congresso, precisam ajudar a mobilizar o país para a importância desta hora.

Os veículos de comunicação, da forma crítica que lhes é habitual e fundamental, têm o papel de mostrar a realidade e o perigo dos números. Não é questão de ideologia, mas de matemática. A conta não fecha.

Lavareda

Sem salvar a Previdência, quem trabalhou duro não vai ter proventos. E os jovens terão um futuro pior.

Não cabe a nós, formadores de opinião, líderes empresariais, influenciadores, ficarmos em cima do muro.

O celular é o microfone que a tecnologia deu a todos. Temos nos nossos grupos de WhatsApp a oportunidade de propagar essa mobilização.

Tenho amigos e parentes que são contra a reforma. Respeito todos eles, e que também façam a campanha pelo que acreditam. Mas os que concordam comigo precisam se mobilizar e ajudar a aprovação no Congresso.

Não é questão de apoiar ou não este governo. Só maluco torce para que o avião em que se está viajando caia. E o Brasil sem a reforma não vai voar.

É aritmética, não é ideologia. As pessoas vivem cada vez mais no mundo todo, e a conta atual não fecha.

Com todo o respeito às pessoas que pensam diferente de mim, eu convido aqueles que pensam como eu a repetirmos juntos esse mantra: Previdência, Previdência,

Previdência.

Vamos salvar a Previdência.

Nizan Guanaes

Publicitário, fundador do Grupo ABC. TÓPICOSRELACIONADOS

Renovação de bancadas no Congresso chega até a 90%

Nos extremos, Mato Grosso reelegeu apenas um deputado federal enquanto o Piauí manteve o governador e 8 dos 12 parlamentares do Estado

A mensagem foi de mudança, mas o grau de insatisfação dos eleitores com a classe política nacional variou bastante na última eleição de acordo com o local de votação. Diante da urna, o desânimo gerado por repetidos casos de corrupção, falta de representatividade e má qualidade dos serviços públicos levaram a taxas opostas de renovação (ou trocas) no Congresso. Mato Grosso e Piauí estão nos extremos desse ranking. Em fevereiro, o berço do agronegócio vai trocar quase todos os seus parlamentares – nove de dez –, enquanto o Estado nordestino vai manter oito de 12 congressistas.

As diferenças entre os dois Estados ultrapassam o poder Legislativo. No Piauí, não só a maioria dos parlamentares permanecerão em suas cadeiras como o governador também foi reeleito, e em primeiro turno. No cargo pela quarta vez, Wellington Dias (PT) é um exemplo da resistência ao desgaste da classe política que atingiu seu ápice nas eleições passadas.

Já o Mato Grosso pode ser considerado o oposto: reelegeu apenas um deputado. O governador também foi trocado – Pedro Taques (PSDB) tentou a reeleição, mas foi derrotado no primeiro turno por Mauro Mendes, do DEM – assim como os dois senadores.

Levantamento feito pelo Estado com todas as 27 bancadas na Câmara e no Senado mostra que apenas seis Estados trocaram menos da metade de seus congressistas em outubro – levando-se em conta apenas os cargos que estavam em disputa. São eles: Piauí, Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Os demais alcançaram 50% ou mais de taxa de renovação em outubro.

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O cientista político Antonio Lavareda classifica as altas taxas de renovação ou troca (os eleitos podem já ter ocupado os mesmos cargos antes ou ter parentesco com os atuais) como resultado da “ruptura do sistema político eleitoral” pela qual passou oPaís. “Essa quebra não ocorreu apenas na disputa presidencial, com o PSDB forada polarização com o PT, mas também nos pleitos locais. O Nordeste só renovou menos porque o pêndulo lá não se deslocou em função da manutenção da esquerdano poder”, disse.

A análise por região citada por Lavareda comprova que o discurso contra a velha política ‘pegou menos’ entre os eleitores do Nordeste. Mas para o analista Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, esse resultado não se explica simplesmente pela força no PT, mas pelo o que ele chama de lógica local. “Não sepode desprezar esse fator. Diversos governos foram reeleitos porque tinham uma boa avaliação. E governos bons influenciam as eleições parlamentares”, afirma.

A hegemonia de Wellington Dias no Piauí está intimamente ligada à ascensão do PT ao governo federal e a implementação de programas assistenciais. A cidade de Guaribas – então considerada a mais pobre do País, localizada no centro sul do Estado – foi escolhida para ser a pioneira do Bolsa Família, em 2003. Passados 16 anos quase 98% dos eleitores da cidade votaram em Fernando Haddad (PT) para o Planalto.

As oportunidades criadas para os mais pobres são apontadas pela auxiliar administrativa Clareana Borges, de 24 anos, como os principais fatores para que ela votasse, pela segunda vez seguida, em Wellington Dias para governador e em Rejane Dias para deputada federal. “Hoje as pessoas, especialmente as do interior, têm

mais qualidade de vida. Na minha cidade, as pessoas têm oportunidades que antesnão existiam para elas”, disse Clareana, natural de São João do Piauí, no sertão doEstado.

Estados manchados por escândalos de corrupção têm índice de renovação maior.

Quando a política local decepciona as trocas parlamentares aumentam. Estados manchados por escândalos de corrupção, como Rio – onde os dois últimos governadores estão presos –, Roraima, Minas Gerais e Amazonas registraram alguns dos maiores índices. No recordista de trocas, Mato Grosso, somente o deputado Carlos Bezerra (MDB) conseguiu se reeleger. Apesar disso, viu sua votação cair de 95.739 para 59.155 votos.

“Foi uma eleição maléfica para o Congresso Nacional”, afirmou Bezerra, que também já foi deputado estadual, prefeito de Rondonópolis (3a maior cidade doEstado) por duas vezes, governador e também senador. “Perdemos bons quadros.” Para ele, a “onda” de renovação é passageira e as eleições de 2018 podem ser comparadas a uma enchente que tira o leito do rio do lugar, mas depois que seca, ele volta ao seu lugar.

Bezerra vai ter companhia conhecida, como a do filho do prefeito de Teresina, Emanuelzinho Pinheiro (PTB), eleito para seu primeiro mandato na Câmara aos 23 anos. José Medeiro (PSD) também é figura conhecida – a diferença é que neste ano ele só vai trocar o mandato de senador pelo de deputado.

Juntos, os Estados do centro-oeste não renovaram os mandatos de 75% dos congressistas. A região, cuja economia é baseada no agronegócio, alavancou a onda de direita que elegeu não só o presidente Jair Bolsonaro, mas 12 governadores alinhados a ele. “O eleitor brasileiro vota de acordo com a sua realidade. Busca uma proposta que possa melhorar a sua vida. Isso do Mato Grosso ao Piauí”, resumeMelo.

Rio é o que mais ‘endireitou’ no novo Congresso.

Com seus dois últimos governadores presos, o Rio de Janeiro foi o Estado que mais“endireitou” no Congresso. A partir de fevereiro, 15 cadeiras que antes pertenciam a12 parlamentares de centro e 3 de esquerda passarão a ser ocupadas por deputados e senadores de direita.

Essa tendência foi mais forte no Sudeste, com São Paulo e Minas Gerais seguindo o Rio na liderança, mas também pode ser percebida em boa parte das bancadas estaduais das duas Casas. Ao todo, Câmara e Senado ganharão 61 novos parlamentares de direita à medida que o centro perdeu 48 cadeiras e a esquerda, 13.

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Deputado reeleito, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) teve a maior votação da história: 1,8 milhão de votos Foto: Dida Sampaio/ Estadão

A legenda mais beneficiada nesse processo foi o PSL do presidente Jair Bolsonaro, que saltou de 1 deputado eleito em 2014 para 52, além de 4 senadores em 2018, distribuídos por 18 Estados. Só na bancada carioca da Câmara, a sigla terá 12 deputados. Além disso, o partido também elegeu os dois deputados mais votados: Eduardo Bolsonaro (RJ) – que com 1.843.735 votos se tornou o deputado mais votado da história – e Joice Hasselmann(SP), com 1.078.666 votos.

Na contramão da onda ‘direitista’, quatro estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Maranhão e Sergipe –, além do Amapá, tiveram uma diminuição de seus parlamentares de direita. O Ceará – reduto eleitoral de Ciro Gomes (PDT) – foi o local que teve mais ganhos para esquerda, com um aumento de 4 cadeiras. O Estado foi o único em que o pedetista venceu no primeiro turno da eleição presidencial.

Adriana Ferraz e Ana Beatriz Assam, O Estado de S.Paulo, 13 Janeiro 2019. COLABORARAM FÁTIMA LESSA E THAÍS ARAÚJO.

 

Evento reúne profissionais do marketing politico  em Brasília – Antonio Lavareda é um dos palestrantes

O Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político organiza  um grande evento para os  dias 12 e 13 próximo: O 1º Seminário de Estratégia, Comunicação e Democracia, no Hotel Kubitschek Plaza ,   em Brasília. A iniciativa conta  com  experientes  nomes do mercado  para dialogar sobre as eleições (e lições) de 2018 . Os temas a serem debatidos abordam também a importância das instituições e dos profissionais de marketing político no fortalecimento da Democracia brasileira.

O cientista político e presidente do Conselho do Ipespe, Antonio Lavareda, um dos palestrantes convidados, falará no encontro, dia 12,  das 9h30 às 11h, em painel que tratará das Eleições 2018: uma análise de conjuntura de país, candidatos e eleitorado”, .

Outros temas movimentarão o seminário como A Importância Popular no Processo Democrático; Fake News e a Onda das Campanhas Negativas no Brasil; A Campanha Eleitoral para presidente da República de 2018.

CAMP 27/11/2018

 

 

Antonio Lavareda: A campanha eleitoral em 2018 teve basicamente cunho emocional, com a preocupação e a indignação/raiva como os sentimentos mais populares

 

A proposta do encontro foi mobilizar os especialistas a fazerem uma análise dos resultados das eleições de 2018 e delinearem o cenário político para os próximos anos. Neste contexto, o presidente da ABC salientou a importância de se “pensar os aspectos sociais do desenvolvimento científico”. Outro argumento muito reforçado durante as palestras foi a peculiaridade do processo eleitoral de 2018, o qual os palestrantes chamaram de “eleição crítica”.

O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Antonio Lavareda explicou que as eleições críticas são caracterizadas por uma grave crise econômica, forte polarização ideológica e emergência de terceiras forças. No caso brasileiro, ele observou ainda os impactos da Operação Lava Jato, do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e do insucesso do governo de Michel Temer.

Diretor do Conselho Científico doInstituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Lavareda relatou que, segundo pesquisa realizada pelo instituto, a campanha eleitoral em 2018 teve basicamente cunho emocional, com a preocupação e a indignação/raiva como os sentimentos mais populares entre os eleitores brasileiros.

 

ATUAÇÃO DA ABC | 26 de novembro de 2018

 

 

“Nossas crianças não aprendem”, diz Mozart Ramos em entrevista exclusiva a Antonio Lavareda

O educador Mozart Neves Ramos foi cotado para ser ministro da Educação de Jair Bolsonaro

A bancada evangélica não reagiu bem ao nome de Mozart Neves para a Educação / Foto: Leo Motta / JC Imagem

O educador Mozart Neves Ramos foi cotado para ser ministro da Educação de Jair Bolsonaro

Ex-secretário de educação do Estado, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atualmente Diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, o pernambucano Mozart Neves teve o nome cotado para assumir o Ministério da Educação no governo de Jair Bolsonaro (PSL), antes do veto da bancada evangélica da Câmara. Em entrevista ao cientista político Antônio Lavareda, ao programa 20 Minutos – no último dia 9, antes das notícias sobre o ministério – o professor analisou o panorama da educação básica, a reforma do ensino médio, o déficit da aprendizagem e temas polêmicos, como o Escola Sem Partido.

ENTREVISTA COM MOZART

ANTÔNIO LAVAREDA – Levantamento da Varkey Foundation com 35 países mostra o Brasil na última posição em relação ao prestígio do professor com o aluno. Por que isso ocorre e qual é o caminho para superarmos essa situação?

MOZART NEVES – É resultado da baixa atratividade pela carreira do magistério no Brasil. Mostra o quanto ela encontra-se desvalorizada. Para se ter uma ideia, no último exemplar do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), foi feita uma pesquisa com os adolescentes, e os brasileiros foram os únicos que não desejaram seguir a carreira de magistério. Quando você olha países como Finlândia, Singapura, Coreia do Sul, a larga maioria dos jovens deseja o magistério.

LAVAREDA – Nesse estudo, 49% dos professores entrevistados dizem que não recomendariam a ninguém seguir a sua profissão.

MOZART – No início da carreira, o salário do professor é 11% menor do que a média de outros profissionais com a mesma titulação. Quando se chega lá pela metade da carreira, esses 11% vão para 43%. Isso demonstra a baixa atratividade do ponto de vista salarial. Mas há outros dois fatores que são muito importantes para que isso aconteça. Um deles está ligado à própria formação. Infelizmente, as nossas universidades não preparam os nossos professores para a prática do ambiente escolar, é uma formação muito teórica. Esse jovem sai da universidade, começa a enfrentar a realidade de uma sala de aula, vê que não está preparado para aquele ambiente e começa a migrar para outro caminho que não o do magistério. O outro ponto tem muito a ver com a questão da violência. Muitos professores, principalmente aqueles que começam a dar aula nas periferias das grandes cidades, não suportam mais do que um ou dois anos, porque realmente sentem o medo de dar aula.

LAVAREDA – Há a questão do retorno de renda em relação aos anos de estudo. No Chile, por exemplo, o retorno agregado por ano de estudo é de US$ 3 mil. No Brasil, esse número fica em torno de US$ 200. Qual é a mensagem que isso passa?

MOZART – No Brasil, a gente tem sete, oito anos de escolaridade como média da população. No Chile, isso chega a quase nove. O que se observa nessa relação entre produtividade e anos de escolaridade é que o impacto maior começa a partir dos oito anos de escolaridade. O Brasil ainda não chegou aos oito anos, mas só chegar também não assegura essa mudança de impacto na produtividade se a educação oferecida não for uma educação plena. Eu diria que o grande desafio da educação brasileira é a aprendizagem escolar. As nossas crianças não aprendem, os nossos jovens chegam ao final do ensino médio com um nível de aprendizagem muito baixo. O fator controlado pela educação que mais impacta na qualidade da aprendizagem – porque há outros fatores externos, como o problema de tráfico de drogas – é a qualidade do professor.

LAVAREDA – Você já foi secretário de Educação e reitor da UFPE. É muito comentado o investimento que o Brasil faz no ensino universitário. Em contrapartida, o nível de investimento no primeiro grau ainda é muito baixo. Como o próximo governo poderia enfrentar essa questão?

MOZART – Tenho lido que a prioridade maior vai ser na educação básica, tanto o ensino fundamental como o ensino médio, para tangibilizar isso. No Brasil, o custo do aluno/ano na universidade pública é R$ 23 mil. No ensino básico, é R$ 6 mil. Na minha opinião, as universidades vão ter que repensar uma cobrança. Eu tenho uma proposta que eu diria que talvez será importante para levar mais jovens de baixa renda às universidades particulares. Todo pai cujo filho estuda em uma universidade pública e que pagava antes do ensino médio uma escola particular deveria pagar a um fundo social que seria destinado a um jovem de baixa renda para estudar em uma universidade particular. O Fies realmente virou uma bola de neve. A lógica do governo do PT quando começou em 2011 era de R$ 1 bilhão para o fundo, mas em quatro anos passou para R$ 32 bilhões. A perspectiva era de que, quando o jovem estivesse saindo da universidade empregado, ele poderia pagar o Fies. Acontece que a gente está em uma crise econômica, são 13 milhões de desempregados, boa parte de jovens egressos das universidades. O programa não se sustentou por isso.

LAVAREDA – Os críticos chamam atenção para o fato da baixa empregabilidade de muitos jovens em função das deficiências desses cursos.

MOZART – Esse jovem chega com muitos déficits de aprendizagem. A maioria vem das escolas públicas, e isso ele carrega. Consequentemente, a própria instituição de ensino superior fica entre a cruz e a espada. Não pode apertar tanto, porque o aluno pode sair. Você tem que criar uma situação de equilíbrio entre promover a aprovação desse aluno e fazer com que ele aprenda o máximo. O Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) é feito para obter um parâmetro que tenta mostrar a evolução desse aluno, mas o que a gente vem observando é que esse é um desafio. No Brasil, somente 19% dos jovens de 18 a 24 anos estão no ensino superior. Quando a gente olha o Chile, a Argentina, isso é o dobro. Então, o Brasil precisa fazer um esforço muito grande do ponto de vista de ampliar essa escolaridade. Mas, para que isso seja sustável, a gente tem que melhorar a aprendizagem na educação básica.

LAVAREDA – 41% dos nossos jovens até os 19 anos não completam o ensino médio. O que pode ser feito para resgatar esse contingente?

MOZART – O jovem tem que ter uma escola que dialogue com o seu mundo. Infelizmente, ele hoje não consegue ter essa escola. É uma escola que precisaria desenvolver essas habilidades tão importantes para os dias atuais e futuros, como a criatividade, colaboração, pensamento crítico, trabalho em equipe. Esse novo ambiente do mundo do trabalho exige das pessoas que elas desenvolvam tais habilidades, e a escola está muito distante dessa chamada educação integral, que desenvolve o projeto de vida do jovem. A gente tem hoje acesso a escola, portanto não há um problema de vaga. Mesmo assim, a gente tem um milhão de jovens de 15 a 17 anos, que é a faixa etária correta para estar no ensino médio, fora da escola e fora do mundo do trabalho.

LAVAREDA – A reforma do ensino médio vai completar dois anos. Você imagina que a partir de que momento nós vamos começar a ver os efeitos concretos dessa reforma?

MOZART – Essa lei precisava de alguma regulamentação adicional. Aconteceu na reunião do mês de novembro do Conselho Nacional de Educação a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio. A outra parte da reforma vem pela Base Nacional Comum Curricular, que ainda não foi aprovada. Ela deve entrar em pauta na reunião de dezembro. A nossa expectativa é de que, com as diretrizes e a base aprovadas também esse ano, a gente comece a implementação da lei efetivamente a partir de 2019. Ela é muito importante porque traz duas coisas fundamentais. Uma é o que se chama de itinerários informativos, que dá mais flexibilidade ao ensino médio com foco em tentar buscar esse jovem para a escola na perspectiva do seu projeto de vida. E tem também um caminho para aquele jovem que queira ir para o mundo do trabalho através dos cursos profissionalizantes e técnicos. No Brasil, dos que terminam o ensino médio, só 22% vão para o ensino superior. A gente precisa preparar também essa juventude para ir para o mundo do trabalho.

LAVAREDA – Qual é a sua expectativa para a questão polêmica do projeto Escola sem Partido?

MOZART – A gente precisa ter uma escola apartidária, onde qualquer que seja a ideologia, ela seja posta fora do ambiente escolar. A escola é o lugar da aprendizagem para a vida. Eu posso ter a minha visão particular, partidária, política, mas eu não tenho que colocar a minha ideologia para os meus alunos. Defendo que a escola procure se focar naquilo que é essencial, a aprendizagem das crianças e dos jovens, que dê uma educação plena, integral, que desenvolva essas habilidades que são tão importantes para a vida atual e futura, tanto no campo social como no campo pessoal.

LAVAREDA – Você acha o projeto da Escola sem Partido positivo?

MOZART – Há uma pressão muito grande nesse sentido. Mas eu acho que dispositivos legais já estão postos para dar esse sentido laico para a escola. Acho que é mais um instrumento legal que, na minha opinião, só vai aumentar a tensão entre aluno e professor. Temo que essa tensão tenda ainda mais a distanciar essa baixa atratividade pela carreira do magistério. Acho que a gente precisa criar esse ambiente que promova uma integração aluno e professor, trabalhar ensino e aprendizagem em equipe. É muito mais importante buscar um ambiente escolar com uma boa gestão para que de fato a gente tenha uma escola harmoniosa, motivadora e que integre a vida do professor com a vida dos alunos.

LAVAREDA – Pernambuco tem obtido bons resultados no ensino médio por causa do ensino integral. Você foi secretário de Educação, e o Ginásio Pernambucano foi a escola precursora da utilização dessa metodologia de ensino.

MOZART – A gente mostrou a importância do ensino integral. É a escola de melhor atratividade, os alunos abandonam menos. Hoje, Pernambuco tem 50% da rede com esse modelo. A expectativa que tenho é de uma nova lei do ensino médio e que, com essa metodologia, a gente possa virar o jogo.

Foto: Leo Motta / JC Imagem
JC Online  25/11/2018

Eleições no Brasil: 2018, o que saiu das urnas?

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Passadas as eleições, avança o debate acadêmico sobre os seus resultados e os fatores que estiveram presentes. Entre eles: o papel das redes sociais, a reduzida importância das coligações e a acirrada polarização ideológica. E é para analisar “Eleições no Brasil: 2018, o que saiu das urnas? que o cientista político Antonio Lavareda participa, nessa quarta, do II Seminário Internacional de Ciências Política, na UFRGS, em Porto Alegre. O evento acontece dessa terça a sexta (20 a 23/11) e conta ainda com convidados de fora do país.

Confira a programação aqui

 

 

 

Programa 20 Minutos: João Campos fala sobre desafios de oposição ao governo de Bolsonaro

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O programa 20 minutos deste sábado (17/11),  apresentado pelo cientista político Antonio Lavareda, trará como entrevistado o recém-eleito deputado federal, João Campos, deputado mais votado em Pernambuco, nas eleições 2018. No programa, ele explica as principais propostas do seu mandato.

Durante a entrevista, Campos também fala sobre as estratégias de oposição que a equipe do PSB fará ao governo Jair Bolsonaro, eleito presidente do Brasil. “Nós não vamos tomar medidas, nem vamos nos posicionar de forma irresponsável, de maneira a atrapalhar a vida do povo brasileiro”, explica.

TV Jornal,  Programa 20 minutos, 14/11/2018.