Leniência militar em 8 de janeiro lembra levante integralista de 1938

Há 85 anos, Palácio da Guanabara estava desguarnecido na hora do ataque e forças de segurança demoraram a chegar

Antonio Lavareda – Doutor em ciência política e professor colaborador da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Presidente de honra da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais) – Artigo publicado na Folha de S. Paulo, Caderno Ilustríssima, página C7 em 29 de janeiro de 2023.

[RESUMO] O Brasil sofreu 13 investidas golpistas desde a Independência, entre as quais o ataque aos três Poderes no último dia 8. A ação dos bolsonaristas guarda semelhanças com o levante da AIB (Ação Integralista Brasileira) em 1938. Nesses episódios, os golpistas encontraram a residência e a sede da Presidência desguarnecidas, as forças de segurança demoraram a chegar e houve omissão de setores do Exército. Resta saber se o futuro da nova extrema direita será melhor que o do fascismo tropicalizado dos anos 1930, que entrou em declínio após a Segunda Guerra.

Alguns fenômenos políticos, sobretudo quando inusuais e estrepitosos, ao ocorrerem tornam irresistíveis os exercícios comparativos. É quando a leitura dos fatos os coloca em perspectiva, permitindo identificar singularidades, de um lado, e constantes históricas, de outro.

O 8 de Janeiro, que despertou estupor no mundo, por certo demandará um olhar assim quando as investigações descortinarem toda a sua tessitura, incluindo, além dos vândalos, a autoria intelectual e os apoiadores explícitos e ocultos e esclarecendo como se dava a relação entre os quartéis e os acampados à sua frente.

Nós não temos, que eu saiba, um estudo comparativo suficientemente amplo desses processos de tomada violenta do poder na América Latina, embora o continente seja pródigo deles. Nem mesmo das revoluções havidas —do que, aliás, já reclamava Joaquim Nabuco (1849-1910) em sua releitura do fim trágico do presidente chileno José Manuel Balmaceda— e muito menos no Brasil, onde, desde a Independência, tivemos 13 golpes de Estado, exitosos ou não.

Eles se distinguem dos movimentos separatistas, como a Confederação do Equador (1824) ou a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Diferem também de outros conflitos como a Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932) e mais ainda dos movimentos revoltosos tenentistas, incluída a Coluna Prestes (1924).

Golpes ou autogolpes implicam o assalto direto aos Poderes e objetivam a ruptura constitucional. Foram de iniciativa palaciana os de 1823 (dissolução da Assembleia Constituinte), 1840 (Golpe da Maioridade), 1891 (Deodoro fecha o Congresso) e 1937 (Estado Novo). O de Marechal Deodoro durou apenas 20 dias.

Todos os demais tiveram como objetivo a destituição ou o impedimento dos então chefes de Estado. Começando pela implantação da República (1889), depois pela Revolução de 1930, que culminou com o golpe militar que depôs Washington Luiz, pela Intentona Comunista (1935), pelo Levante integralista de 1938, pela deposição de Vargas (1945), pelo chamado contragolpe legalista do marechal Lott (1955), pela adoção forçada do parlamentarismo (1961), pelo golpe militar de 1964, que inaugurou a Quinta República, e pelo assalto às sedes dos três Poderes em janeiro de 2023. Golpes e autogolpes vitoriosos foram 70% deles.

Houve movimentos com menor ou maior participação popular, mas a constante irrefutável é a participação de “cidadãos armados”, os militares. Nunca foi minimamente plausível subverter o regime sem a sua participação, e o tamanho da adesão dos mesmos sempre foi a principal variável explicativa do êxito ou do fracasso dessas iniciativas.

A breve compilação acima dos eventos anteriores de igual natureza nos permite identificar um único episódio que guarda alguma similaridade com o golpe frustrado do início deste ano: o putsch da AIB (Ação Integralista Brasileira), o fascismo tropicalizado, em 11 de maio de 1938, uma semana após o fechamento da entidade pelo governo Vargas.

Os que atacaram, 85 anos atrás, o Palácio Guanabara, residência presidencial à época, também o encontraram desguarnecido, tal como se deu em Brasília nos prédios do Planalto, Congresso e Supremo, quando horas foram decorridas até que os responsáveis pela segurança enfrentassem os invasores.

Como lembra Lira Neto, no golpe integralista eram poucas dezenas de atiradores, mas não se via inicialmente qualquer mobilização dos milhares de militares acantonados no Rio de Janeiro para sufocar o levante, que era enfrentado na madrugada pelos funcionários do Palácio, alguns militares leais ao presidente e por Vargas e seus familiares empunhando armas.

O tenente Júlio Barbosa, oficial do dia, facilitou a entrada, por um portão lateral, dos invasores chefiados pelo também tenente Severo Fournier. Ele também restringiu propositalmente a munição da tropa incumbida da guarda, que terminou se rendendo aos golpistas.

Mesmo comunicada, a polícia demoraria horas para enviar reforços e foram visíveis as omissões de setores do Exército e da Marinha, cujo prédio também foi ocupado. Os atacantes só foram rechaçados após a chegada decisiva do general Dutra, então ministro da Guerra, cuja presença sinalizou o apoio da cúpula das Forças Armadas ao presidente. A lógica da operação estava desfeita.

O objetivo era eliminar fisicamente o presidente e, no vácuo político, abrir caminho para os militares, entre os quais havia um sem número de simpatizantes do integralismo, tomarem o poder. Suspeitos de envolvimento ou simpatia foram, entre outros, o almirante Guilhem, o general Góis Monteiro, admirador confesso de Hitler, e Filinto Müller, o chefe de polícia famoso pela repressão sanguinária. Mas Vargas, ditador dependente dos aliados militares, não quis esclarecer a participação deles. Anos depois seria deposto por Góis.

Quanto à autoria intelectual, esse papel coube a Plínio Salgado, depois preso e exilado em Portugal. Líder do movimento que chegou a contar com 1,5 milhão de adeptos por todo o Brasil, ele se sentiu traído por Getúlio, que mandara fechar as sedes da AIB, colocando-a na ilegalidade, após ter contado com seu apoio no combate aos comunistas e na criação do Estado Novo. Ou seja, o golpe de 1938 foi urdido por um movimento político, o integralismo, com apoio na sociedade civil e ramificações incontroversas nas Forças Armadas e na polícia do Rio de Janeiro.

A lógica da tentativa de golpe de 2023, mesmo sem tiroteios como seu congênere da Terceira República, foi basicamente a mesma. Visava surpreender e desarticular o sistema político, promovendo um cenário caótico nas sedes dos três Poderes, o qual, transmitido pelas redes sociais e repercutindo nas TVs, obrigaria, no entendimento dos seus idealizadores, a “intervenção militar” reclamada desde a vitória do novo presidente pelos acampamentos à frente dos quartéis, com milhares de radicais que imaginavam ter suas teses acolhidas, interpretando dessa forma a leniência dos chefes militares que admitiram essas concentrações, não o bastante suas faixas e redes sociais afrontarem a Constituição.

Lembrando que a ideia de intervenção no TSE, no último mês do mandato de Bolsonaro, na prática um autogolpe como a famosa minuta do decreto evidenciou, provavelmente foi descartada por insuficiência de adesão das altas patentes.

Os participantes de agora foram extraídos de um movimento antissistema de extrema direita que, ao invadir e destruir os prédios que simbolizam a República, removeram as últimas dúvidas sobre o caráter regressivo de sua liderança, movida pela nostalgia do regime militar de 1964.

O bolsonarismo, no segundo turno do ano passado, aproximou-se da metade da votação presidencial válida, e o partido que o abrigou (PL) logrou eleger a maior bancada da Câmara Federal. Tal como a antiga AIB, tem conexões internacionais —é o capítulo local da nova direita mundial— e se mostrou bem mais enraizado que seu predecessor da primeira metade do século 20.

Em expansão no mundo, o futuro dessa vertente não parece comprometido, como se deu com as ideias fascistas que, após empolgarem porções significativas do Ocidente, entraram em derrocada juntamente com o Eixo na Segunda Guerra. Nadando nessa raia, o integralismo brasileiro declinaria durante o conflito e nunca se recuperou da mancha de 1938. Quando sobreveio a redemocratização, tampouco conseguiria reaver a força original.

Ao disputar finalmente a Presidência, em 1955, Plínio Salgado só alcançou 8,3% dos votos. Somente na região Sul chegou aos dois dígitos (14,2%). Em toda a República do Pós-Guerra, a direita seria representada pela UDN, que terminaria encapsulando o populista Jânio Quadros para finalmente ganhar a eleição de 1960. Plínio continuaria sua caminhada com horizonte mais modesto. Seria deputado por São Paulo, apoiador do golpe militar de 1964 e depois vice-líder da Arena na Câmara dos Deputados.

Não é fácil divisar o futuro do bolsonarismo. Vai depender do aprofundamento das investigações e da eventual responsabilização e inelegibilidade de Bolsonaro, sobre o qual pesam suspeitas de participação no possível autogolpe de dezembro e no golpe de janeiro. Também dependerá do posicionamento que seus líderes —o ex-presidente e parlamentares— venham a adotar.

Para qualquer evento futuro, sempre haverá no mínimo duas rotas possíveis para os personagens, como Churchill nos mostrou escrevendo o perfil de Hitler em 1935.

Prevalecerá a retórica antissistema, baseada no mito da fraude nas urnas? Ou essa página será virada, como aliás já fizeram os governadores desse campo, e o enfrentamento se dará como oposição “normal”?

Na primeira hipótese, o movimento, uma vez inviabilizado legalmente o líder, apresentaria uma candidatura do clã. Perderia certamente densidade eleitoral, deixando de ser competidor efetivo pelo poder nacional.

Já na segunda opção, novos nomes disputariam o espólio bolsonarista, distanciando-se do fantasma do 8 de Janeiro, embora sempre equilibrando-se para contar com as bênçãos do ex-presidente e tentar, assim, manter a hegemonia à direita no espectro ideológico.

Há 90 anos, Hitler assumia o poder na Alemanha

Publicado pela Deutsche Welle em 30/jan/2013 >> atualizado nesta segunda-feira (30/1/2023) 

Em 30 de janeiro de 1933, o então presidente Hindenburg nomeou Adolf Hitler como chanceler do Reich. Poucos tinham ideia da dimensão desse fato. Propaganda nazista encenou o acontecimento como “tomada de poder”.

Cenas sombrias ocorreram no Portão de Brandemburgo em 30 de janeiro de 1933, em Berlim. Já há horas, o chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels, vinha posicionando homens da tropa de assalto de Hitler próximo ao local. Mais de 20 mil membros da chamada SA (Sturmabteilung), a tropa de choque do partido nazista NSAPD, haviam chegado durante a noite.

O início estava marcado para as 19h. Tochas foram acesas, batalhões da SA desfilavam pelo Portão de Brandemburgo. Poucas horas antes, Adolf Hitler havia alcançado seu grande objetivo: ser nomeado chanceler do Reich pelo então presidente alemão Paul von Hindenburg.

O recém-empossado chanceler alemão foi festejado por seus seguidores. De uma janela da então Chancelaria, Hitler cumprimentou os espectadores presentes. Goebbels havia planejado um gigantesco espetáculo. Ele pretendia encenar de forma dramática esse novo capítulo da Alemanha: aquela deveria ser “a noite do grande milagre”. Uma espécie de fita de fogo formada por portadores de tochas devia atravessar a cidade.

Goebbels queria criar imagens monumentais, ideais para impressionar os espectadores no cinema, já que era ali que os noticiários eram transmitidos na época. Mas os transeuntes passeavam distraídos para lá e para cá entre as formações da SA e impediram as gravações desejadas.

Goebbels ficou desapontado e reencenou as imagens mais tarde. O famoso pintor alemão de origem judaica Max Liebermann já tinha visto o bastante. Para o desfile de tochas dos homens da SA na frente de sua casa, o pintor escolheu palavras dramáticas: “Eu nunca conseguiria comer tanto para tudo o que gostaria de vomitar.”

Declínio da República de Weimar

A história da ascensão de Adolf Hitler está intimamente ligada ao declínio da República de Weimar. Desde o surgimento em 1918, ela sofria de defeitos congênitos irreparáveis – era uma democracia sem democratas. Boa parte da população rejeitava a jovem República, sobretudo a elite econômica, funcionários públicos e até mesmo políticos.

Tentativas de golpe pela direita e pela esquerda sacudiram o país. Nos primeiros cinco anos da República de Weimar, assassinatos espetaculares chocaram o país. Entre outros, as mortes dos comunistas Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht, bem como o assassinato do ministro do Exterior Walther Rathenau, de origem judaica. Os criminosos provinham da ala de extrema direita.

A política da República de Weimar foi marcada pela total instabilidade. Nos 14 anos de sua existência, ela presenciou 21 diferentes governos. Entre os 17 partidos do Parlamento, encontrava-se uma série de inimigos declarados da Constituição. Com cada nova crise política e econômica, os eleitores perdiam mais e mais a confiança nos partidos democráticos.

Enquanto isso, o extremismo político vivenciava um grande crescimento. Os nazistas, pelo lado da direita, e os comunistas, pela esquerda, ganhavam cada vez mais adeptos. Por volta de 1930, a Alemanha estava à beira de uma guerra civil. Nazistas e comunistas travavam batalhas de rua. A crise econômica de 1929 piorou ainda mais a situação. Em junho de 1932, o número oficial de desempregados no país somava 5,6 milhões de pessoas.

O papel de Hindenburg

Em tal situação, muitos alemães ansiavam por um nome forte à frente do governo, alguém que pudesse tirar o país da crise. O presidente Paul von Hindenburg era uma dessas pessoas, para muitos, ele era uma espécie de substituto do imperador. De fato, segundo a Constituição de Weimar, o presidente do país era a instância política central. O cargo detinha uma imensa esfera de poder.

O presidente podia dissolver o Parlamento e outorgar leis por decretos emergenciais, algo que cabe normalmente a qualquer Parlamento. Hindenburg fez uso, diversas vezes, da possibilidade de governar contornando o Legislativo. No entanto, Hindenburg não tinha como cumprir o papel de salvar a Alemanha da miséria, pois já estava com 85 anos no início de 1933.

Após diversas trocas de governo, Hindenburg pretendia, na ocasião, instalar um governo estável chefiado pelos conservadores nacionalistas de direita. A princípio, ele era cético quanto à nomeação de Adolf Hitler para chefe de governo. Durante muito tempo, Hindenburg ironizou Hitler, chamando-o de “soldado raso da Boêmia” – uma alusão ao fato de que ele, Hindenburg, era um condecorado marechal de campo da Primeira Guerra Mundial, e Hitler, apenas um soldado comum.

Mas Hindenburg mudou de opinião. Pessoas próximas a ele lhe asseguraram que manteriam Hitler sob controle. Alfred Hugenberg, líder do Partido Popular Nacional Alemão, declarou: “Nós iremos enquadrar Hitler.” Tinha-se um grande senso de segurança, também porque somente dois ministérios foram oferecidos aos nazistas no novo gabinete de governo. Por outro lado, Hitler e seus seguidores passaram a se apresentar propositalmente de forma moderada e a evitar alaridos.

Completa ignorância sobre Hitler

De fato, no dia 30 de janeiro de 1933, um sonho se tornou realidade para Hitler e sua comitiva. Com alegria, Goebbels confidenciou ao seu diário: “Hitler é chanceler do Reich. Como um conto de fadas!” Na mais completa ignorância sobre Hitler e suas intenções, nomeou-se o “coveiro” da República para chanceler. Mas Hitler já havia apresentado seus planos no livro Mein Kampf. Ele escreveu que os judeus seriam “removidos” e um novo “habitat” seria conquistado “pela espada”.

O dia 30 de janeiro de 1933 entrou para a história como o dia da “tomada de poder”, conceito na verdade inventado pela propaganda nazista, pois a nomeação de Hitler – e essa é a verdadeira ironia da história – aconteceu de forma constitucional. 

Hindenburg não teve de presenciar que o caminho de Hitler levaria na verdade ao Holocausto e à Segunda Guerra Mundial. Ele morreu em 1934. E logo Hitler mostrava quão ingênua foi a crença de que ele poderia ser controlado e neutralizado. Pouco depois de ser empossado como chefe de governo, começou em todo o país o horror das tropas de assalto da SA.

Comunistas, social-democratas e sindicalistas foram perseguidos. Em pouco tempo, os primeiros campos de concentração foram instalados. Ali, os membros da SA torturavam suas vítimas, que iriam incluir, pouco tempo depois, judeus e outras pessoas consideradas indesejáveis pelos nazistas. Hitler precisou somente de poucos meses para embaralhar a República de Weimar e instalar sua ditadura.

Três quartos dos brasileiros acreditam que 2023 será um ano melhor

Pesquisas Observatório Febraban e RADAR Febraban mostram expectativa positiva da população e a satisfação da maioria com a vida

Imagem: Freepik

O ano de 2022 termina melhor do que começou para a maioria da população e o próximo começará com sentimento renovado de otimismo e esperança, apontam as pesquisas Observatório Febraban RADAR Febraban. Quase oito em cada dez entrevistados têm sentimentos positivos quanto a 2023, sendo esperança, alegria e confiança os principais. A diferença entre os sentimentos positivos (76% dos entrevistados) em relação às expectativas negativas (23%) é significativa.

Ao mesmo tempo, a maioria dos brasileiros mostra satisfação com a vida que vêm levando e grande parte dos entrevistados avalia que houve melhora na sua vida pessoal e familiar em 2022 em comparação com 2021.

As duas pesquisas foram realizadas entre os dias 29 de novembro a 5 de dezembro, com 3 mil pessoas nas cinco regiões do País. A 13a Edição do Observatório FEBRABAN – Pesquisa Febraban-Ipespeinvestiga as expectativas da população do país para 2023 e a última rodada deste ano do RADAR Febraban, captura a o balanço que a população brasileira faz de 2022.

Observatório Febraban mostra que 74% da população crê na melhora de sua vida pessoal e familiar no novo ano e a maioria avalia que sua situação financeira já está se recuperando. Em 2023, mais da metade dos brasileiros presumem que estarão menos endividados.

As expectativas em relação ao país também são favoráveis, embora de modo menos expressivo do que na dimensão pessoal. Quase quatro em cada dez entrevistados consideram que a recuperação da economia já está em curso e mais da metade deles acreditam que o país estará melhor no próximo ano.

Da mesma forma, ainda que não atinja mais de 50% dos entrevistados, as expectativas sobre o novo governo são positivas que negativas: quase metade dos brasileiros prevê que a nova administração será ótima ou boa, embora o comportamento dos juros, do dólar e da bolsa de valores seja visto, entre outros, como eventual obstáculo que pode comprometer esse desempenho esperado.

A maioria dos ouvidos na rodada de dezembro do RADAR Febraban aponta progressos na relação com familiares e amigos e no uso de tecnologias e recursos digitais. Já a saúde física e mental, as finanças, e o trabalho são avaliados na perspectiva de menores avanços.

Quando avaliam a situação do país em geral, o número de brasileiros que acredita que o Brasil melhorou em 2022 em relação a 2021 é um pouco maior do que a percepção de que aqueles que veem uma piora. Como área em que houve avanços apontam emprego e renda, e, de outro lado, saúde permanece no topo dos problemas. Além da avaliação predominante de que os preços dos produtos aumentaram em relação ao começo do ano

A avaliação da situação financeira pessoal e sobretudo a visão sobre o país leva quase metade dos entrevistados a planejar menos compras de fim de ano do que em 2021, ao passo que cerca de um terço irá manter o nível de compra anterior.

“O Observatório Febraban mostra que a esperança é o principal sentimento em relação ao ano novo, sobretudo entre as mulheres. Também aponta perspectivas otimistas quanto à queda do desemprego, aumento do acesso ao crédito e do poder de compra; acompanhadas de uma atitude cautelosa em relação a taxa de juros e inflação/custo devida.”, avalia o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.

Seguem os principais resultados dos dois levantamentos:

Observatório Febraban

Sentimentos positivos em relação a 2023

O novo ano chega renovando expectativas favoráveis, com sentimentos predominantemente positivos em relação à virada de ano (76%). Em todos os estratos sociodemográficos, a soma de sentimentos positivos em relação a 2023 passa de 70%, chegando a 85% entre os jovens de 18 a 24 anos e a 79% entre as mulheres.

  • ✓  Esperança: desponta como o sentimento mais citado, com 38% das menções;
  • ✓  Alegria: é o segundo sentimento mais citado (19%);
  • ✓  Confiança: surge como terceiro sentimento predominante (13%);
  • ✓  Tranquilidade e orgulho: são citados por 4% 2% dos entrevistados,respectivamente.Sentimentos negativos em relação a 2023
    Os sentimentos negativos não alcançam um quarto das menções (23%)✓ Desconfiança: é o mais citado, mas por apenas 8%;
    ✓ Medo: aparece em segundo lugar, com 7% de menções;
    ✓ Tristeza: sentimento é citado por 5% do total dos entrevistados.Expectativas para a vida pessoal e familiar em 2023As expectativas também são favoráveis em relação à vida pessoal e familiar no próximo ano. Entre os entrevistados, 74% creem que sua vida irá melhorar em 2023. Outros 11% imaginam que não haverá mudanças e 10%, mais pessimistas, acreditam numa piora.A tendência também é de otimismo em relação à recuperação da situação financeira após a pandemia: 60% declaram que ela já está se recuperando, enquanto 23% vislumbram essa recuperação só depois desse ano. Poucos (9%) são os que avaliam que sua situação financeira não foi afetada e os mais pessimistas, que não vislumbram recuperação, somam apenas 3%.

A percepção de que a recuperação das finanças já está em curso (60%) apresenta oscilações importantes por faixa etária e escolaridade. Enquanto esse percentual é de 66% entre os de 18 a 24 anos, cai para 53% na faixa de 45 a 59 anos e 55% entre os que têm 60 anos ou mais.

  • ✓  Finanças: é o primeiro no ranking de aspectos da vida pessoal com mais chances de melhorar em 2023 (36%);
  • ✓  Saúde física: aparece em segundo lugar (28%) no rol de possíveis melhorias em 2023;
  • ✓  Saúde mental: fica em terceiro lugar (26%);
  • ✓  Trabalho ou emprego: teve 23% das menções;
  • ✓  Relações interpessoais: são citadas por 16%;
  • ✓  Lazer e entretenimento: tiveram 12% das menções;
  • ✓  Moradia: citada por 10% dos respondentes.Expectativas sobre o endividamentoA expectativa positiva sobre a recuperação das finanças pessoais impacta sobre a projeção do endividamento: mais da metade dos entrevistados (56%) acredita que estará menos endividada em 2023 do que em 2022. Essa percepção é mais comum na faixa de 18 a 24 anos (64%) e menos frequente entre os que têm 60 anos ou mais (49%). Para 28% dos entrevistados, o seu nível de endividamento em 2023 permanecerá o mesmo que em 2022.Expectativas sobre o País em 2023O otimismo dos brasileiros também predomina em relação ao país, porém de modo menos expressivo do que em relação à vida pessoal e com dose de cautela. Mais da metade (55%) acreditam que em 2023 o Brasil vai melhorar. Na direção contrária, a piora do país é esperada por 26% dos pesquisados. Para 13% dos respondentes, o país vai permanecer igual.Prevalece a opinião de que a economia só vai se recuperar a partir do próximo ano (45%). Pouco mais de um terço opinam que a economia já está se recuperando (39%). Uma parcela mais pessimista, que não enxerga perspectivas de recuperação econômica, é constituída por 8% dos respondentes.Projeções para os primeiros seis meses de 2023Essas projeções são permeadas por maior cautela. O placar das expectativas sobre taxa de juros e inflação/custo de vida mostra um empate entre os que acreditam que ficará como está ou irá melhorar, e aqueles que vislumbram piora.• Taxas de Juros49% creem que vai diminuir (25%) ou permanecerá igual (24%). Enquanto 48% acreditam que vai aumentar;• Inflação53% acham que o custo de vida vai diminuir (29%) ou ficarão no patamar atual (24%). Já 45% declaram que irão aumentar;

• Acesso ao crédito72% creem que recursos para pessoas e empresas vai aumentar (40%) ou ficará como está (32%). Ao passo que cerca de um quarto acredita em diminuição (23%);

• Desemprego67% acreditam que vai diminuir (39%) ou ficará o mesmo (28%). Já para 31% o desemprego irá aumentar nos próximos seis meses;

• Poder de compra62% apostam no aumento do poder de compra das pessoas (36%) ou na permanência no nível atual (26%). Enquanto 34% acham que irá diminuir;

Expectativas sobre o novo governo

Quase metade dos brasileiros (46%) acredita que o Governo Lula será ótimo/bom e outros 16% imaginam que será regular. Na outra ponta, pouco menos de um terço (31%) avalia que o novo Governo será ruim/péssimo.

Agenda da população para o próximo governo se sobrepõe, em várias áreas à agenda dos principais compromissos abordados na recente campanha.

✓ Educação: 20%;
✓ Saúde: 17%;
✓ Desemprego: 15%;
✓ Fome e Miséria: 14%;
✓ Inflação e Custo de vida: 13%;

✓ Combate à Corrupção: 10%.
Entraves para o novo governo

Cerca de um terço dos respondentes (33%) acredita que o comportamento dos juros, do dólar e da bolsa de valores será o principal obstáculo a ser enfrentado pelo novo Governo. Já a falta de apoio do Congresso aparece em segundo lugar, com 16% das menções. Em terceiro lugar (14%) como entrave que pode prejudicar o bom desempenho do próximo governo aparecem as manifestações e falta de apoio da população.

Relacionamento entre os demais poderes e outros setores

A expectativa a respeito do relacionamento entre o novo Governo, os poderes Judiciário (aqui representado pelo STF), o Legislativo (Congresso) e outros setores, é favorável, com saldos positivos em todos os itens avaliados. A perspectiva de uma relação ótima/boa é notadamente maior quanto ao STF (67%) e aos movimentos sociais (59%), caindo para 48% no caso dos bancos e mercado financeiro; para 40% com o Congresso; e para 37% com os empresários.

RADAR Febraban
Balanço de 2022, vida pessoal e familiar

A grande maioria dos brasileiros está muito satisfeita ou satisfeita (71%) com a vida que vêm levando. De outro lado, cerca de um quinto da população (22%) se diz insatisfeita ou muito insatisfeita com a vida. Grande parte dos entrevistados (43%) avalia que houve melhora na sua vida pessoal e familiar em 2022 em comparação com 2021, enquanto para 35% a vida continuou igual. Os que percebem piora constituem a menor parcela, 21%.

  • ✓  Uso de tecnologias ou recursos digitais: 58% avaliam que houve melhoras em 2022;
  • ✓  Relações com companheiro(a), filhos, familiares e/ou amigos: 49% viram melhoras noano;
  • ✓  Moradia: 57% disseram que não houve alteração em 2022;
  • ✓  Estudos e Cultura: 50% não sentiram mudanças;
  • ✓  Saúde física42% não ocorreram alterações;
  • ✓  Saúde mental40% não registram mudanças;
  • ✓  Finanças: 39% afirmam que ficou como estava e 28% identificaram piora e 32% disseramque melhorou.
  • ✓  Trabalho e emprego: 40% disseram que não houve alteração, 37% afirmam quemelhorou e 21% disseram que piorou em comparação a 2021. Expectativa de consumoDiante do balanço das finanças em 2022, a expectativa para as compras de fim de ano é predominantemente pessimista: 46% dos entrevistados afirmam que irão comprar menos do que no ano passado, apenas 16% esperam comprar mais, e 35% dizem que manterão o padrão anterior.Balanço do país em 2022Colocando-se em perspectiva a evolução do país em 2022 no cotejo com 2021, a maioria considera que o Brasil melhorou (39%) ou ficou igual (25%), contra 34% que afirmam ter piorado.Perguntados sobre em quais áreas o Brasil melhorou em 2022 Emprego e Renda ocupam o topo do ranking – única menção com dois dígitos, 19%. As demais menções ficam abaixo de 10%, sem destaques. Chama atenção o contingente de cerca de um terço dos entrevistados (31%) que não cita qualquer área.Já na designação das áreas que experimentaram piora em 2022, quatro menções se destacam com dois dígitos: Saúde com 16%Inflação e Custo de Vida (13%), Fome e Pobreza (12%) e Emprego e Renda (12%). As demais citações ficam abaixo de 10% no total.Impacto da InflaçãoA segunda posição ocupada por Inflação e Custo de vida no ranking de áreas que pioraram/ tiveram mais problemas em 2022 é reiterada pela superlativa avaliação (79%) de que os preços dos produtos aumentaram muito ou aumentaram do começo do ano até o momento. Os itens mais impactados pela carestia são:✓ Alimentos e outros produtos de abastecimento doméstico:68das menções (em pergunta de múltiplas respostas);

✓ Combustível: 30%;
✓ Serviços de Saúde ou remédios: 22%;
✓ Juros de cartão de crédito, financiamento ou empréstimo: 11%;
✓ Planos de compra de veículos ou imóveis: 7%;
✓ Pagamento da escola, faculdade ou outros serviços de educação: 6%.

Avaliação dos Bancos

Entre os brasileiros, a confiança nos bancos (59%) manteve-se relativamente estável, com oscilação positiva de dois pontos comparativamente ao levantamento de junho. Com relação às fintechs a confiança segue padrão semelhante, com oscilação positiva de dois pontos chegando a 57%. No que concerne às empresas privadas, o percentual de entrevistados que relataram confiança (50%) mantém-se no patamar observado na rodada de junho, após ter sofrido queda de 4 pontos percentuais.

A opinião sobre a contribuição positiva do setor bancário para o país e a população é reforçada. Houve aumento da percepção sobre a contribuição positiva em todos os aspectos, com variações de 2 a 5 pontos.

Permanece majoritária entre os entrevistados a percepção de contribuição positiva do setor bancário para o desenvolvimento da economia (56%), A contribuição para a geração de empregos, é considerada positiva por 50%, o que representa um aumento de 4 pontos em relação ao RADAR de junho. A contribuição positiva para a melhoria da qualidade de vida das pessoas é reconhecida por 48% dos entrevistados, 3 pontos a mais que no levantamento anterior.

A opinião sobre a contribuição positiva do setor bancário para seu negócio ou para sua atividade profissional aumentou 5 pontos, chegando a 49%. Único item com leve redução na percepção positiva sobre a contribuição dos bancos, a ajuda para o país, a população e seus clientes enfrentarem a crise do coronavírus, obtém 49% de menções (eram 50% em junho).

Percepção sobre golpes e tentativas

Embora represente uma minoria, o percentual de entrevistados que relataram ter sido vítimas de golpe ou tentativa de golpe bancário (30%) se mantém no nível reportado na última rodada do RADAR, em junho de 2022.

Ressalte-se que o perfil etário das vítimas identificado nesse levantamento, concentrado entre os que têm 25 a 44 anos (34%) difere de resultados anteriores em que as principais vítimas tinham idade de 60 anos ou mais.

Embora permaneça como o tipo de golpe mais comum a clonagem ou a troca de cartão (48%), o percentual de citação é notadamente menor que em junho/2022 (64%). Por outro lado, cresce por mais uma rodada seguida a frequência do golpe em que alguém se passa por conhecido para solicitar dinheiro no WhatsApp (de 25% em junho para 30% em dezembro).

golpe da central falsa praticamente manteve o percentual (24%). Os demais golpes representam 10% ou menos do total. E quem são as principais vítimas dos golpes?

• O golpe da clonagem ou troca de cartões foi mais relatado pelos homens (49%), com renda de mais de 5 SM (56%), com nível de instrução médio (53%) e idade entre 18 e 24 anos (53%).

• Sobre o golpe do WhatsApp, em que alguém se passa por um conhecido e solicita dinheiro, é mencionado sobretudo pelos respondentes com renda entre 2 e 5 SM (31%), com nível de instrução superior (36%), com idade entre 25 e 44 anos (34%) e mulheres (31%).

• O golpe da central falsa ocorre sobretudo entre pessoas com 60 anos ou mais, (30%), mulheres (26%) e com renda entre 2 e 5 SM (26%).

• O golpe do leilão ou loja virtual é mais frequente entre pessoas com idade de 18 24 anos (12%), com idade de 25 a 44 anos, 45 a 59 anos, com nível de instrução médio e com renda entre 2 e 5 SM (10%, em todos esses segmentos).

A participação foi alta novamente. Este é o novo normal?

Por Mônica Potts

15 DE NOVEMBRO DE 2022, ÀS 11H46 – O US Elections Project estima uma taxa de comparecimento de 47% para as eleições de meio de mandato deste ano. 

DAVID BECKER / THE WASHINGTON POST /538

Os Estados Unidos estão em uma era de alta participação?

A participação aumentou durante as últimas eleições de meio de mandato em 2018, quando 49% dos eleitores elegíveis votaram para o cargo mais alto em seu estado, de acordo com dados analisados ​​pelo US Elections Project , um site de dados eleitorais mantido por Michael P. McDonald, um cientista político professor da Universidade da Flórida. O Census Bureau, usando uma medida ligeiramente diferente, informou que foi o maior comparecimento registrado para uma eleição de meio de mandato desde que o bureau começou a manter registros em 1978.

Os primeiros sinais apontam para um nível semelhante de participação nas eleições intermediárias da semana passada. Usando estimativas preliminares de autoridades eleitorais estaduais em todo o país, o Projeto Eleições dos EUA estima uma taxa de comparecimento de 47% para as eleições deste ano. Em 14 estados, a participação até aumentou ligeiramente em relação a 2018. (As estimativas podem mudar em estados onde a contagem das cédulas ainda não foi concluída.)

Embora a maioria das estimativas de comparecimento do estado tenha caído um pouco em comparação com os números de 2018, elas ainda são maiores do que nos últimos anos anteriores, e o comparecimento em 2020 foi elevado em comparação com as eleições presidenciais anteriores. Então o que está acontecendo? Bem, provavelmente não apenas uma coisa! Em vez disso, há um monte de forças diferentes que poderiam ter levado as pessoas a votar nas últimas eleições.

Em 2018, de acordo com uma análise da The Brookings Institution, os grupos de tendência democrata – jovens eleitores, minorias e graduados brancos – tiveram os maiores aumentos no comparecimento. Isso faz sentido, já que um presidente republicano estava no cargo, e esses dados demográficos constituem grande parte da coalizão democrata moderna. O presidente Donald Trump também motivou grupos de tendência republicana a comparecer naquele ano, embora tenham visto aumentos menores. Antes das eleições intermediárias de 2018, uma pesquisa do Pew Research Center descobriu que o entusiasmo dos eleitores era extremamente alto e que 60% dos eleitores viam seu voto como uma expressão de apoio a ou contra Trump. Aversão à outra parte, o que os pesquisadores chamam de “partidarismo negativo”.tem motivado os eleitores nas últimas eleições e ainda pode estar aumentando.

A participação também foi extremamente alta na eleição presidencial de 2020, que Trump perdeu para o presidente Biden. Quase dois terços dos eleitores elegíveis foram às urnas , 7 pontos a mais que em 2016 , e o Pew Research Center relatou aumentos de votos em todos os estados. Com Trump concorrendo à reeleição, eleitores de ambos os lados compareceram e, por causa da pandemia de COVID-19, muitos estados trabalharam para tornar a votação mais acessível , facilitando a solicitação de cédulas à distância e o voto pelo correio, entre outras mudanças (no menos temporariamente).

Claro, uma grande diferença entre 2018 e 2022 é que Trump não estava nas urnas este ano. Mas o trumpismo ainda estava na mistura e ainda poderia ter motivado os eleitores. Sessenta por cento dos americanos tiveram um candidato em suas cédulas que negou que Biden tenha vencido a eleição de 2020 e, em alguns estados, esses negadores concorreram a cargos importantes que lhes dariam poder sobre a administração eleitoral em seus estados. Habilitada pelas nomeações de Trump, a Suprema Corte anulou Roe v. Wade neste verão, levando alguns estados a decretar proibições draconianas e impopulares , enquanto os eleitores em outros lugares foram movidos a derrotar iniciativas que teriam feito o mesmo em seus próprios estados. Trump endossou candidatos com votos positivos e negativosem todo o país.

Não há um padrão consistente nos estados que viram ligeiros aumentos no comparecimento às urnas em comparação com 2018. Claro, alguns estados, como Michigan e Pensilvânia , estavam votando sobre o direito ao aborto de uma forma ou de outra, mas também Kentucky e Califórnia , e a participação não foi alta nesses estados.

Um estado também não precisava necessariamente de uma corrida competitiva para aumentar a participação. Sim, Michigan e Pensilvânia tiveram aumentos e corridas de alto risco, mas também Arkansas, onde a eleição principal foi uma corrida não competitiva para governador.

Talvez, então, esteja ficando mais fácil votar. Alguns estados, como Maine e Nova York , reduziram as barreiras de votação desde 2018, mantendo cédulas universais por correio ou medidas de votação por ausência sem justificativa que entraram em vigor durante a pandemia de 2020, e alguns desses estados parecem ter tido um aumento nas vire para fora. Mas isso não aconteceu em outros estados: em Massachusetts, as expansões dos direitos de voto na era da pandemia tornaram-se permanentes e também houve uma corrida para governador, mas a participação parece ter diminuído. 

Mais do que qualquer um desses fatores, o tema unificador dos últimos anos tem sido o aumento do nível de polarização partidária. Os eleitores não são apenas motivados a votar contra o outro lado, eles não gostam e desconfiam dele. No geral, porém, os americanos acabam votando muito menos do que em muitos países semelhantes . O que o futuro próximo reserva é uma questão de leis, apostas e também, até certo ponto, nossa cultura política. 

Monica Potts é repórter política sênior da FiveThirtyEight.  @monicabpotts

EUA: Pesquisas foram bem nas midterms

Foto: Freepik

Não só os democratas estão respirando aliviados após as eleições intermediárias de 8 de novembro. O temor da onda vermelha (republicana) foi afastado, mesmo antes de concluída a apuração, que se arrasta por conta do sistema de votação descentralizado. Os institutos de pesquisa americanos também pularam uma fogueira. Lembrando que lá o sistema bipartidário e o voto facultativo eliminam o voto útil, fazendo com que as pesquisas sejam cobradas como spoiler das urnas.

Baseados nelas os prognosticadores este ano se saíram bem melhor que na eleição passada na Câmara (House) e especialmente na eleição do Senado, em que o “erro” médio se situou em dois pontos para todas as disputas, conforme Elliot Morris citando dados de Alexander Agadjanian (PHD student, na UC Berkeley). Nessa linha, as pesquisas por telefone com entrevistadores (live phone) se saíram ainda melhor que as  on-line (internet). Lembrando que praticamente eles não utilizam pesquisas eleitorais face à face. 

Esse resultado foi um alívio para a comunidade de pesquisas, após o setor ter amargado um pesadelo em 2020, o pior ano de desempenho dos institutos desde Reagan, em 1980, segundo a AAPOR ( Associação Americana de Pesquisa de Opinião Pública). Na verdade, na eleição de Biden foram agravados problemas que já haviam despontado nos surveys de 2016, e que interromperam o prestígio que desfrutavam por terem subsidiado projeções muito acuradas, em 2008 e 2012. 

O que os institutos fizeram esse ano? Praticamente nada, em termos de mudanças metodológicas. Mas a “recusa à entrevista” dos Republicanos diminuiu e isso pode ter ajudado significativamente. Será? Na verdade, nem a Comissão da AAPOR que examinou os dados de 2020 chegou a uma conclusão efetiva sobre o tamanho do “voto oculto” em Trump naquele ano. Nesse terreno, os pollsters não conseguem ir muito longe. É a Ciência Política que pode nos ajudar a entender por que o uso de métodos semelhantes produz dados que ora se aproximam mais ora menos do resultado das urnas. E que portanto “bons” resultados de hoje dizem pouco sobre o que ocorrerá nos próximos ciclos eleitorais. 

Meu suposto é que, afora o perfil da abstenção em comparação com o perfil do apoio dos principais candidatos, o fator chave para explicar a maior ou menor aproximação entre atitudes e comportamento, entre as pesquisas e as urnas, é a “volatilidade”, o grau de consistência das intenções de voto. E que a mesma é intrínseca à “natureza” de cada eleição. A exacerbada polarização nos EUA, reforçada pelos temas da  “inflação” e do “aborto/controle do corpo”, e pela forte presença de Trump, nacionalizou as disputas, estabilizando-as. Combinado com o alto percentual de voto antecipado (early voting) resultou numa participação elevada, embora inferior a de 2018. 

Essa discussão faz todo sentido também no Brasil. Onde uma comissão tripartite da ABEP (Associação Brasileira da Empresas de Pesquisa), da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política), e da ABRAPEL (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais) se debruçará em breve sobre pesquisas e eleições de 2022. 

No nosso segundo turno, binário, sem a longa lista de candidatos e o voto útil do primeiro turno, além de conhecido o perfil da abstenção, as pesquisas como alimentadoras de prognósticos (alimentadoras…) se saíram muito bem no segundo turno. Não só na eleição presidencial. Também nas de governadores. Em um único estado houve inversão entre o resultado da véspera e o registrado pelo TSE.

Por que foi diferente do que havia ocorrido em 2018, quando as pesquisas foram cobradas por não terem antecipado os movimentos vertiginosos de última hora em diversos pleitos?

Não tem a ver com a “qualidade” das pesquisas. E, sim, com natureza diferente das duas eleições. Esse ano vivemos uma disputa “normal”. Eleições “mantenedoras” nas quais assistimos a maior taxa de reeleição (90%) para os governos estaduais de toda a Nova República. Voto “prospectivo retrospectivo”, reelegendo 18 incumbentes bem avaliados. De resto, a mesma espinha dorsal da lógica prevalecente na disputa presidencial. Em 2018, tivemos uma eleição “crítica”, com ondas tsunâmicas no final das campanhas varrendo políticos tradicionais. 

Sempre será impossível proceder-se um bom exame do “desempenho” das pesquisas eleitorais, apenas examinando-as “internamente”, sem que se faça o correto diagnóstico do objeto sobre o qual se debruçam. Nessa direção, o primeiro passo sem dúvida é pedir ajuda à Ciência Política e à Sociologia Eleitoral para compreender-se a natureza e respectiva dinâmica potencial de cada pleito. “Cada eleição é uma eleição” é apenas uma bobagem frequentemente repetida a cada eleição.

O que está em jogo nestas eleições

Por Conselho Editorial do The New York Times* – publicado em 7 de novembro de 2022

As eleições de meio de mandato nos Estados Unidos são frequentemente apresentadas como um referendo sobre o partido no poder, e essa mensagem parece ressoar neste outono. Mas os eleitores também precisam considerar as intenções do partido que espera recuperar o poder e o que cada voto dado significará para o futuro deste país.

Oito senadores Republicanos e 139 representantes do partido tentaram anular os resultados das eleições de 2020 com base em alegações espúrias de fraude eleitoral e outras irregularidades. Muitos deles provavelmente vencerão a reeleição e podem se juntar a novos membros que também expressaram dúvidas infundadas sobre a integridade das eleições de 2020. Sua presença no Congresso representa um perigo para a Democracia, que deveria estar na mente de todos os eleitores que votam neste dia de eleição.

Também será a primeira vez que a máquina eleitoral dos EUA será testada em uma eleição nacional após dois anos de ações judiciais , teorias da conspiração , “auditorias” eleitorais e todo tipo de interferência de crentes nas mentiras de Donald Trump sobre a eleição de 2020. Esse teste vem ao lado da adoção do extremismo violento por uma pequena, mas crescente facção do Partido Republicano.

O maior perigo para a integridade eleitoral pode, de fato, vir dos resultados das disputas estaduais e locais que determinarão quem realmente conduz a eleição e conta os votos em 2024. Nas semanas que se seguiram à eleição de 2020, Trump e seus apoiadores viram seus esforços para negar os resultados das eleições e provar a fraude eleitoral desenfreada frustrados por duas coisas: primeiro, sua incapacidade de produzir provas críveis de que tal fraude havia ocorrido e, segundo, uma infra-estrutura eleitoral que foi defendida por funcionários públicos honrados que se recusaram a aceitar alegações de irregularidades.

Nos últimos dois anos, Republicanos em dezenas de estados tentaram desmantelar essa infraestrutura peça por peça, principalmente preenchendo posições-chave com simpatizantes de Trump. Como este Conselho escreveu em setembro: “Em vez de ameaçar os funcionários eleitorais, eles serão os funcionários eleitorais – os funcionários eleitorais e comissários de condado e secretários de estado responsáveis ​​​​por supervisionar a emissão, contagem e certificação de votos”. Muitas dessas posições estão sendo contestadas esta semana.

Com Trump dizendo estar preparando sua tentativa de retornar à Casa Branca, este Conselho pede aos eleitores americanos que considerem a importância de cada voto no dia da eleição, em todos os níveis de governo. Mesmo que o membro do Congresso em seu distrito tenha se recusado a aceitar as mentiras de Trump sobre esta eleição, há outras disputas nas urnas em muitos estados para cargos – incluindo secretário de Estado, procurador-geral e governador – que desempenharão papeis cruciais na supervisionar e certificar a eleição presidencial de 2024.

Ainda assim, com a eleição a dois anos de distância, muitos eleitores dizem que estão mais preocupados com as atuais ameaças aos seus meios de subsistência do que com a ameaça igualmente séria, mas menos visível, à democracia. Uma pesquisa recente do New York Times/Siena College descobriu que “mais de um terço dos eleitores independentes e um contingente menor, mas notável de Democratas, disseram estar abertos a apoiar candidatos que rejeitam a legitimidade da eleição de 2020, pois atribuíram maior urgência à sua decisão – preocupações com a economia do que temores sobre o destino do sistema político do país”.

De fato, os eleitores têm boas razões para olhar para o momento atual e se perguntar se o governo Biden e os Democratas do Congresso estão fazendo o suficiente para enfrentá-lo. A alta inflação está tornando mais difícil para os americanos arcarem com o que eles necessitam e querem. A criminalidade geral aumentou, fazendo com que as pessoas temam por sua segurança. O governo federal está lutando para fazer cumprir as leis de imigração do país. A invasão da Ucrânia pela Rússia e as relações cada vez mais tensas dos Estados Unidos com a China estão minando a paz e a prosperidade globais.

Mas os Republicanos ofereceram poucos planos específicos para lidar com questões como inflação, imigração e crime – e mesmo que ganhem o controle do Congresso, é improvável que ganhem cadeiras suficientes para mudar significativamente a política federal nos próximos dois anos.

Um Senado controlado pelos Republicanos, no entanto, seria capaz de impedir o presidente Biden de preencher vagas na bancada federal e na Suprema Corte. Também se tornaria mais difícil obter confirmações para funcionários do poder executivo.

Os candidatos Republicanos também se comprometeram a dedicar tempo e energia significativos à investigação do governo Biden. “Não acho que Joe Biden e seus assessores estejam exatamente ansiosos para sancionar a legislação republicana, então nossas audiências serão a coisa mais importante que podemos ter”, disse a deputada Lauren Boebert, do Colorado, em um comício recente.

Além desse espetáculo, os Republicanos ameaçam encenar outro confronto sobre os gastos federais.

Em algum momento do próximo ano, espera-se que o governo atinja o limite de sua capacidade de endividamento autorizada, ou teto da dívida. Para cumprir os compromissos já autorizados pelo Congresso, será necessário aumentar esse limite. Isso deveria ser uma questão de manutenção básica, porque não pagar as contas do país arriscaria uma crise financeira global. Mas os votos do teto da dívida tornaram-se oportunidades recorrentes de extorsão.

Este conselho pediu que o Congresso elimine o teto da dívida, substituindo-o por uma lei de bom senso que diz que o governo pode tomar emprestado o que for necessário para prover os gastos autorizados pelo Congresso. Não há benefício público em exigir o que equivale a uma segunda votação nas decisões de gastos. Mas, por enquanto, o teto permanece, e os Republicanos deixaram claro que, se ganharem o controle do Congresso, pretendem usá-lo como moeda de troca com a Casa Branca para avançar nas metas fiscais de seu partido.

Uma prioridade nessa lista é cortar impostos. Os Republicanos já estão se preparando para avançar com a legislação para estender os cortes de impostos de 2017 para pessoas físicas, que beneficiam principalmente famílias ricas, ao mesmo tempo em que eliminam alguns dos aumentos compensatórios da tributação corporativa – um plano que não é facilmente conciliado com as preocupações declaradas do partido sobre inflação ou o aumento da dívida federal.

As propostas republicanas também tornariam mais difícil para o Internal Revenue Service impedir que americanos ricos sonegassem seus impostos. O deputado Kevin McCarthy, líder da minoria na Câmara, que está em posição de se tornar presidente se os republicanos obtiverem a maioria, disse que o “primeiro projeto de lei” que passaria sob sua liderança reverteria um aumento de US$ 80 bilhões para o Congresso do IRS aprovou que o financiamento em agosto para que o IRS possa reprimir a fraude fiscal desenfreada por famílias de alta renda.

Alguns republicanos seniores pediram a revogação de outra peça-chave da legislação de agosto, conhecida como Lei de Redução da Inflação: uma medida que limita os custos de medicamentos para idosos no Medicare, incluindo um teto mensal de US$ 35 para pagamentos de insulina.

Os Republicanos também lançaram planos para reverter benefícios mais firmemente estabelecidos. O Comitê de Estudos Republicanos, um grupo de trabalho de política conservadora cujos membros incluem mais da metade da atual safra de republicanos da Câmara, publicou um plano orçamentário em junho pedindo que o Congresso aumente gradualmente a idade de aposentadoria para 70 anos para os benefícios totais da Previdência Social para verificar o aumento custo do programa. O plano também aumentaria a idade de elegibilidade para o Medicare.

Os Democratas podem tornar mais difícil para os Republicanos perseguir esses objetivos aumentando o limite da dívida ou alterando as regras nas semanas entre a eleição e o final do ano.

Os democratas não conseguiram se conectar com as preocupações dos eleitores sobre inflação e segurança pública durante esta temporada de campanha. Eles lutaram para comunicar suas conquistas tangíveis, incluindo um grande aumento no financiamento para a aplicação da lei local e legislação bipartidária de segurança de armas, um investimento federal histórico no desenvolvimento de fontes de energia limpas e de baixo custo para enfrentar as mudanças climáticas e o custo de vida, e uma medida inovadora para reduzir o custo dos medicamentos prescritos para os beneficiários do Medicare.

Sem dúvida, há mais trabalho a ser feito sobre essas e outras questões, incluindo a saúde da economia e o estado quebrado da política de imigração. Os eleitores precisam decidir em qual partido confiam para fazer esse trabalho.

Mas as eleições de 2022 também são uma oportunidade para cada americano fazer sua parte na defesa da integridade das eleições americanas. A tarefa de salvaguardar a nossa democracia não termina com uma eleição e exige que todos desempenhem um papel. A governança de nossa nação depende disso.

*O Conselho editorial é formado por um grupo de jornalistas opinativos cujos pontos de vista se baseiam pela experiência, pesquisa, debate e valores ao longo das carreiras jornalísticas. O Conselho não é ligado à redação do TNYT. Publicado no TNYT em 7/11/2022 – https://www.nytimes.com/2022/11/07/opinion/midterms-win-control-congress.html?smid=nytcore-ios-share&referringSource=articleShare

TERMÔMETRO DA CAMPANHA IPESPE/ABRAPEL: ÚLTIMA RODADA DO SEGUNDO TURNO (25/OUTUBRO)

1. ELEIÇÃO RESOLVIDA?

Estabilidade é a marca da última rodada do Termômetro. Os dois candidatos evoluíram cada qual um ponto na pergunta espontânea. Lula tem 47% e Bolsonaro, 43%. Na estimulada a mesma coisa. Lula vai a 50% e Bolsonaro a 44%. Excluídas as respostas Nenhum/ Branco/ Nulo/ Não sabe, o placar mantém-se em Lula, 53% X 47% Bolsonaro. Um empate no limite da margem de erro, mas pouco plausível considerada a série de três levantamentos. A evolução do incumbente registrada na semana anterior foi interrompida. Isso pode ter sido resultado do início da repercussão do episódio Roberto Jefferson com forte repercussão a partir do fim da noite do Domingo. Lembrando que as entrevistas dessa pesquisa foram iniciadas no último sábado e concluídas com uma menor quantidade ontem. O que se pode esperar sobre a evolução dos competidores nos próximos dias? É verdade que nessa reta final, com os ânimos acirrados, deve-se esperar novas denúncias dos dois lados. Além do campo oficial lançar mão a cada momento de um arsenal inesgotável de recursos para tentar reduzir a liderança do adversário. E também teremos um último Debate na Globo, na sexta-feira, com audiência certamente recorde. Tudo isso combinado certamente terá alguma influência, mas a cinco dias da votação uma reviravolta é muito difícil. Nunca houve na última semana numa eleição presidencial no Brasil. Só um fato extraordinário poderia inverter a posição dos concorrentes.

2. ABSTENÇÃO PODE REDUZIR A DIFERENÇA

Tomando-se o baixo interesse como indicador de possível não comparecimento, além dos que declaram que votarão Branco/Nulo ou estão indecisos, a liderança de Lula fica mais estreita, 52% x 48% de Bolsonaro. A pesquisa mostrou também como o ex-Presidente é o maior prejudicado pela abstenção que poderá decorrer da distância da residência dos eleitores até o local de votação. Entre os 19% da amostra que enfrentam maior dificuldade para votar, porque ou moram longe (14%) ou muito longe (4%), e mais os que não souberam responder à questão (1%), a dianteira de Lula sobre Bolsonaro é muito maior: 54% X 41%. Além do grau de interesse e da distância, incluímos uma terceira variável – certeza de comparecimento – também extraída do modelo Perry-Gallup utilizado para cálculo de prováveis eleitores (likely voters). Dos eleitores de Bolsonaro 89% declararam ter certeza de que irão votar, número que cai para 82% entre os eleitores de Lula. Optamos por apresentá-las de per si ao invés de compor um índice para melhor ilustrar os efeitos de cada uma delas.

3. CERTEZA DO VOTO, REJEIÇÃO, APROVAÇÃO E DESAPROVAÇÃO

As intenções de voto dessa última rodada do Termômetro que vimos antes estão inscritas em uma rede de quatro fatores interligados com as mesmas. São esses: o voto consolidado em cada um, a rejeição declarada aos dois candidatos e a Aprovação e Desaprovação dos respectivos governos. A favor de Lula contam os 47% de “certeza de voto”, os 49% de Aprovação retrospectiva do seu governo, e do outro lado os 49% que “não votariam de jeito nenhum” em Bolsonaro, e os 49% que Desaprovam o atual governo. Ao passo que Bolsonaro tem 41% de “certeza de voto”, acompanhado do contingente de 43% que Aprovam seu governo, dos 45% que “não votariam de jeito nenhum” em Lula, e dos 43% que Desaprovam os governos do ex-Presidente.

4. MELHOR CAMPANHA E QUEM MAIS ATACA

Faltando poucos dias para a eleição, na avaliação do público Lula “se saiu melhor” na campanha desse segundo turno, mencionado por 48% contra 40% que indicaram Bolsonaro. O atual Presidente é quem “está atacando mais o adversário” para 46%, enquanto 35% apontam Lula. Entre os diversos meios, Lula fica à frente de Bolsonaro “nas notícias de Televisão e Rádio” (47% X 33%); “aparecido melhor nas notícias de jornais, portais e blogs” (48%X 33%); na “propaganda de TV e Rádio” (45%X 37%); e em quase empate no item “tem se saído melhor nos debates” (41%X 40%). Já Bolsonaro fica à frente nos tópicos “melhor comentado nas conversas de WhatsApp” (40% X 37%); e “melhor presença na redes sociais” (41%X 39%).

5. AUMENTA A ATENÇÃO À CAMPANHA EM TODAS AS PLATAFORMAS

Prestes ao encerramento, a atenção dos eleitores cresceu em quase todos os meios. O noticiário da televisão e rádio é acompanhado por 60%, as redes sociais atraem a atenção de 49%, e o noticiário dos jornais, portais e blogs da internet de 26%. Os debates foram citados por 16%, WhatsApp e Telegram por 13%. Com um dígito são citados ainda o YouTube (9%) e a Propaganda na TV e no Rádio (7%).  Lembrando que esse último item provavelmente diz respeito aos Programas (blocos) de TV e Rádio, porque as inserções atingem e influenciam inconscientemente toda a audiência das redes abertas.

FALTAM CINCO LONGOS DIAS ATÉ A VOTAÇÃO (30/10) 

TERMÔMETRO DA CAMPANHA IPESPE/ABRAPEL: SEGUNDA RODADA DO SEGUNDO TURNO (18/OUTUBRO)

Antonio Lavareda*

1. EMPATE NO DEBATE DA BAND COM POOL DE EMISSORAS

Registrando recorde histórico de audiência, nada menos que 46% dos eleitores dizem ter assistido ao Debate nas diversas plataformas. E mais um quinto (21%) “ouviu falar” do mesmo. O empate visível segundo a avaliação do público reflete a disputa polarizada, além dos altos e baixos de cada candidato durante o mesmo. Para 42% Bolsonaro levou a melhor, enquanto para percentual parecido, 41%, Lula foi o vencedor. Os efeitos iniciais da longa troca de acusações entremeadas de autoelogios foram aparentemente limitados. O Debate “melhorou” a opinião sobre ambos quase na mesma medida: Bolsonaro, 27%, e Lula, 26%. E “piorou” para 21% no que diz respeito a Lula, e 19% quanto a Bolsonaro. Porém, qualquer avaliação dos números das pesquisas sobre o evento deve levar em conta o perfil da audiência do ponto de vista das preferências eleitorais. É que o Debate foi assistido no todo ou em parte por 57% dos eleitores bolsonaristas, e por apenas 40% dos lulistas.

2. PLACAR DAS INTENÇÕES DE VOTO REPRODUZ DISTÂNCIA DO 1o TURNO

No período de uma semana, a distância entre os competidores foi reduzida em dois pontos. Lula que havia ampliado sua margem na rodada anterior agora lidera por quatro pontos na questão espontânea (46% X 42%), e seis na estimulada (49% X 43%). O resultado da espontânea apresenta o mesmo intervalo do primeiro turno sobre o total do eleitorado. Excluídas as intenções de Voto em Branco e Nulos + Indecisos, tem-se 53% X 47%.

3. SEM OS ELEITORES DE BAIXO INTERESSE, A DISTÂNCIA É MENOR

Dada a dificuldade da pesquisa captar toda a extensão da abstenção, tal como no levantamento anterior foi utilizada uma única variável (grau de interesse na eleição) para se conjecturar sobre o possível impacto do não comparecimento de eleitores. Excluindo-se, então, os 22% que declararam ter baixo ou nenhum interesse no pleito, além dos que declaram que votarão Branco/Nulo e Indecisos, a disputa fica mais apertada: Lula, 52% X 48%, Bolsonaro.

4. CERTEZA DE VOTO E REJEIÇÃO

Lula permanece com os mesmos números de “certeza de voto” (47%) e de rejeição (45%) da semana passada. Bolsonaro cresceu um ponto no primeiro item (42%) e declinou um no segundo (48%). A proximidade dos respectivos números de rejeição é o indicador que melhor sinaliza a incerteza nesse momento quanto ao desfecho do processo eleitoral.

5. MAIORIA PREVÊ A VITÓRIA DE LULA

A expectativa de vitória do ex-Presidente é alimentada por número superior ao de suas intenções de voto (53%), enquanto o contrário se dá com Bolsonaro. Apenas 37% dos eleitores imaginam que ele poderia ser vitorioso.

6. VOTO EM BOLSONARO “PUXA” APROVAÇÃO DO GOVERNO

A Aprovação do governo subiu um ponto (para 42%) a Desaprovação recuou três (para 49%). Eu já havia comentado esse fenômeno na semana anterior. Inverte-se a relação entre as variáveis. Para evitar dissonância cognitiva grande parte dos eleitores que passaram a escolher Bolsonaro no segundo turno – na maioria por rejeição a Lula – questionados sobre seu governo lhe conferem Aprovação. Quanto ao ex-Presidente o processo é algo semelhante. Declinou dois pontos sua Aprovação retrospectiva (48%), mas a Desaprovação continuou em 43%. Ou seja, os números para os dois contendores se tornam bem próximos daqueles de “Certeza de Voto” e “ Não votaria de jeito nenhum”, a chamada rejeição.

7. PARTIDOS HIDROPÔNICOS. METADE DOS VOTANTES NÃO SABE O NOME DO PARTIDO EM CUJO CANDIDATO VOTOU

É digno de comemoração o fato de que a proibição das coligações nas eleições proporcionais reduziu a fragmentação das bancadas (com o Número Efetivo de Partidos, NEP, na Câmara Federal recuando de 16,7 na legislatura atual para 10,1 na próxima), diminuindo para doze o número de legendas e federações que a partir de agora disporão do Fundo Partidário. De fato, isso facilitará o processo decisório no Legislativo, mas  a ausência de raízes das legendas na sociedade continua. Sendo ela causada por uma regra eleitoral obsoleta (voto proporcional de lista aberta) não praticada por nenhuma democracia de grande porte, e que é responsável por “individualizar” na prática os laços de representação. Fazendo, por exemplo, da Câmara Federal, como tenho afirmado, “um agregado de 513 empreendedores individuais”, vitoriosos numa das mais caras eleições do mundo. Decorrida só uma quinzena da eleição, os dados mostram que, afora a identidade partidária dos dois finalistas da disputa presidencial, é escandalosamente baixo o conhecimento dos partidos a que pertencem os candidatos. Partidos sem raízes como alfaces hidropônicas, quase todos despidos de significado aos olhos da sociedade, são talvez a maior debilidade da nossa democracia.

FALTAM 12 LONGOS DIAS ATÉ A VOTAÇÃO (30/10)

* Cientista Político e Sociólogo – Instagram: @lavareda_antonio / Twitter: @lavaredaantonio

Um triplo carpado em piscina vazia

Por Antonio Lavareda

Artigo publicado no caderno Ilustríssima – Folha de S.Paulo ed. 15/10/2020 – págs C6 e C7

Os intelectuais públicos generalistas têm o direito e o dever de se pronunciar sobre os temas candentes que empolgam a sociedade, independentemente da maior ou menor familiaridade que tenham com o objeto em questão. Jornalistas também, por obrigação. Mas quando nos deparamos com supostos especialistas, ostentando currículos que aparentemente legitimariam suas assertivas, é importante analisar com lupa a argumentação. Quanto tempo é necessário para alguém se tornar conhecedor qualificado de algo? Malcom Gladwell respondeu essa questão. Segundo ele, não precisa ser diplomado na área, mas dez mil horas de dedicação a um tema são imprescindíveis  para se conseguir isso. Na minha experiência pessoal, formado em quatro áreas das ciências humanas, levei alguns anos estudando neurociência antes de publicar artigos e livros conectando-a com a política e a comunicação, um exercício do que Edward Wilson chamou de “consiliência”. Por isso, a mim que frequentemente recuso dar entrevistas sobre assuntos, mesmo da ciência política, os quais não domino, por respeito ao público e por honestidade, causa espécie assistir personagens investirem contra a reputação de profissionais e empresas, sem a menor autoridade intelectual para fazê-lo.

Ronaldo Lemos, um jovem talentoso advogado, com boa bibliografia na área de TI, com o entusiasmo e a pressa desse admirável mundo novo que fascina a todos e particularmente parece inebriá-lo, atirou-se sem hesitação a uma leitura fulminante das pesquisas eleitorais brasileiras. Nas páginas do Ilustríssima, domingo passado, surfou com raro senso de oportunidade a onda da perplexidade e das críticas aos institutos após o dois de outubro. Baseado no que supostamente praticam as empresas desse mercado nos EUA, desferiu em estilo pós-moderno uma sequência impressionante de golpes a laser. Não economizou juízos acerbos acerca da suposta obsolescência do setor. Denunciou a “inépcia” absoluta, que levou “a erros clamorosos”, apontando o “esgotamento” do modelo, alimentado pela “nostalgia” que faz essa atividade moribunda. Não se furtando a apontar caminhos para uma eventual ressureição da atividade: abraçar a sociologia computacional e a abordagem qualitativa. E não perdeu tempo, aproveitando para “empossar” um apadrinhado, um novo farol, o Instituto Atlas, único a “acertar em cheio” o resultado da eleição.

Ocorre que o atleta gnosiológico se jogou na piscina errada. E pior, ela estava vazia.

Desde o primeiro turno das eleições desse ano, pesquisas e institutos têm estado sob ataque das mais diversas fontes. Que infelizmente não se resumem apenas a críticos em busca de holofote. Vão perigosamente além. Numa conjuntura de tensões exacerbadas elas foram contestadas antes e depois da votação. No âmbito do Executivo, uma investigação foi requerida à Polícia Federal pelo Ministério da Justiça. No Congresso, foi deflagrada uma cruzada obscurantista, com vasto arsenal – CPI, Audiência Pública e Projeto de Lei criminalizando a atividade. Qual a principal “evidência” do “erro” dos institutos? A alegada discrepância entre os números apresentados pelas pesquisas e o resultado das urnas.

Então, comecemos pelo que ocorreu no primeiro turno da eleição presidencial, jogando luz sobre a alegada distância entre as fotografias das pesquisas exatamente como foram divulgadas na véspera da eleição e o resultado da mesma. Esse Quadro 1, que elaboramos a partir dos dados oficiais do TSE, e dos levantamentos tal como divulgados pelos meios de comunicação, permite a fácil compreensão das estimativas dos institutos sobre o desempenho dos candidatos no momento da realização dos levantamentos, na média 48h antes do pleito, e os resultados obtidos pelos presidenciáveis. Tal comparação exige ser realizada sobre os totais das pesquisas e do eleitorado. Porque as amostras dos institutos devem  ser representativas do total dos eleitores. As intenções de voto e outras opiniões colhidas pretendem ser estimativas da ocorrência das mesmas no universo em questão, ou seja, nos 156.500 milhões de brasileiros inscritos para votar.

No Quadro referido estão os percentuais obtidos por cinco institutos, na ordem em que os divulgaram ao longo do sábado, com as intenções de voto sobre o total do universo e, uma vez excluídos os votos brancos, nulos e indecisos, os chamados “votos válidos’. Observe-se que não se faz pesquisas para captar “votos válidos”, embora esses números passem a ser divulgados pela mídia à medida que se aproxima a eleição. Com o intuito de os fazerem comparáveis com os que serão divulgados pelo TSE. Às vezes eles se aproximam do resultado oficial, às vezes não. Por diferentes fatores. Dois institutos com percentuais sobre o total absolutamente diferentes em magnitude -um deles estando bastante equivocado- podem ter “válidos” semelhantes ou mesmo iguais.

O que fica encoberto nos “votos válidos”? Para sua extração são utilizados os dados das questões estimuladas. Que apresentam os percentuais dos candidatos, mais o percentual de votos em Branco e Nulos, e mais um ou dois porcento de “não sabe”, os supostos indecisos. E a partir daí são excluídas essas duas últimas categorias, recalculados os números e…. tem-se o que parece uma projeção, baseada na pesquisa, do resultado final. Parece mas não é. Por que de onde sairá a abstenção que não foi computada nem declarada? Inevitavelmente sairá dos contingentes de intenções de voto dos concorrentes. Ela prejudicará igualmente os candidatos? Lógico que não. No Brasil, como na maioria dos países, ela se concentra mais na base da pirâmide social. Para se ter uma ideia, dos quase sete milhões de eleitores analfabetos, cerca de 52% não votaram no primeiro turno. E quase metade dos eleitores de Lula têm até fundamental completo. Por isso, eu lembrava no Twitter, no dia 01/10, que a abstenção precisaria diminuir para aumentar a chance dele vencer no primeiro turno. Entretanto ela ainda foi um pouco maior (21%) do que em 2018.

De outro lado, nas colunas de totais percebe-se sem maior esforço que em direção contrária às perplexas especulações da noite da eleição e dos momentos seguintes, todas as pesquisas publicadas se aproximaram na margem de erro, ou até coincidiram numericamente, com os 33%, arredondados, da votação de Bolsonaro. Elas estimaram a mais, porém na margem de erro, todos os concorrentes da terceira via e os nanicos abaixo de 1%. Entretanto todas elas captaram intenções de voto em Lula entre sete e onze pontos acima do voto efetivo (37% arredondados) que ele registrou nas urnas. A explicação para essa distância está lá na base da última coluna à direita do Quadro 1. Nos 21% arredondados da abstenção.

Vez por outra aparece algum curioso que pretende dissociar abstenção de pobreza. Os argumentos variam desde a desatualização dos cadastros da Justiça Eleitoral por conta do delay na informação dos óbitos pelos cartórios cíveis até a falta de transferência de títulos para novos municípios de moradia dos eleitores. As duas coisas naturalmente devem ocorrer, mas nada sequer capaz de chegar perto do montante de 32.771 milhões de ausentes. E no caso da falta de transferência, lembremos que o fenômeno também é fruto da pobreza.

Os dados do TSE, apresentados no Quadro 3, relativos à abstenção por faixa de escolaridade no primeiro turno são eloquentes. A correlação entre o não comparecimento e a baixa escolaridade classificada nesses sete estratos, chega a -0.87. Quanto menos escolaridade, mais abstenção.  A diferença entre o topo e as camadas de escolaridade inferior é impressiva. Na base (analfabetos) é mais de 4 vezes superior ao extremo superior da pirâmide (curso universitário completo). É impossível negar a realidade. Em um país democrático que adota o voto obrigatório, não se pode naturalizar a ocorrência, eleição após eleição, de uma lamentável “abstenção compulsória” de tamanha proporção.

Arte: Folha de S.Paulo

O que foi dito acima sobre proximidade entre os números revelados às vésperas da eleição e os das urnas não significa desconhecer o principal postulado dessa atividade, indicado no título da minha fala no Seminário da ABEP dirigido a jornalistas em maio desse ano: “Por que pesquisas não podem ser lidas como prognósticos”. No texto, aponto alguns dos fatores que desautorizam o uso  para tal fim dos  resultados de tais levantamentos. Destaco o papel do voto estratégico, típico de sistemas pluripartidários como o nosso, o voto errático, e sobretudo a abstenção, a qual nenhum instituto, como se viu no Quadro 1, tem condições de estimar de modo razoável, pelo fato do voto ser obrigatório e os prováveis absenteístas não revelarem essa disposição. 

Aliás, mesmo com o voto sendo facultativo nos Estados Unidos, identificar os “likely voters” é uma tarefa difícil para os institutos de lá, cada qual usando uma fórmula diferente desde George Gallup, e poucas vezes acertando, como observa Elliot Morris.

O fenômeno ocorrido este ano  é singular? Não. Aconteceu muitas vezes. Mesmo FHC quando ganhou em primeiro turno em 1994 tinha 48% sobre o eleitorado total na véspera do pleito, mas nas urnas obteve apenas 36,2%. A abstenção foi de 17,8%, e o Branco e Nulo, com voto ainda em papel, chegou a 15,5%. Lula, quando por 1,4 ponto  não se sagrou vitorioso no primeiro turno de 2006, marcava 46% sobre o total na véspera, mas nas urnas a abstenção lhe tomou nove pontos e ele só alcançou 37,1% do total de eleitores naquele momento. E quanto à escolha de governadores em alguns estados, já que na maioria deles não houve mudanças significativas em relação às pesquisas? Neles, as mudanças de última hora foram exatamente isso. Movimentos finais que ocorreram após as últimas pesquisas divulgadas. Precisamente como a teoria do voto estratégico supõe: eleitores que utilizam a informação dos últimos levantamentos para alterar seu comportamento. Em estados como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, e Bahia, foi nítido o “alinhamento”, com a disputa nacional  que assumiu  polarização recorde, repetindo  a morfologia de 2006. Fracionamento ( FE: 0,58) e Número de Competidores Efetivo (NE: 2,4). Os menores da Nova República.

Isso posto, dirijamo-nos à metodologia. Será que está mesmo moribunda como foi apontado? Salvo a pesquisa do IPESPE, telefônica, as demais foram  todas presenciais, mas dado que os resultados foram muito próximos, é inócuo discutir-se qualquer diferencial de acuidade entre elas. E quanto à pesquisa Atlas, única on-line, que segundo Lemos seria o novo padrão “gold” das pesquisas? Mais uma vez, o crítico olhou para o que não viu, e não acertou exatamente porque não viu. O Quadro 2 compara os resultados anunciados pelo Atlas na véspera da votação com os resultados da eleição. Esqueçamos os “votos válidos”, porque como já foi comentado as pesquisas captam intenções de voto identificadas em amostras colhidas sobre o total de eleitores, e não sobre “votos válidos”. Assim, eventual proximidade com os números de Lula “válidos” é apenas coincidência. A comparação necessária é com os números totais.

Lançado o foco na direção correta, o que se constata é que os dados do Atlas, contrariamente ao que a análise ingênua e apressada de Lemos identificou, foram os que mais se distanciaram tanto do número de Lula, quanto do número de Bolsonaro. Treze pontos em relação ao primeiro, e oito pontos em relação ao segundo. Estamos falando de 20 milhões de votos a mais  no primeiro colocado, e 12,5 milhões no segundo. Foi o único instituto  a  ficar  fora da margem de erro no que concerne ao incumbente.

Arte: Folha de S.Paulo

Não que a metodologia on-line do Atlas esteja “errada”. Não se trata disso. Ela ainda é apenas “inadequada” para estudos eleitorais no Brasil, onde um quarto da população não é usuária frequente da internet, onde temos 7 milhões de eleitores analfabetos e 25% da população padece de  analfabetismo funcional. Eu montei, em companhia de conhecidos cientistas da computação do CESAR o primeiro instituto de pesquisa on-line do Brasil vinte e três anos atrás, em 1999, o Diga-me.com. De lá para cá, vários dos institutos criticados em bloco no artigo ora replicado desenvolvem rotineiramente estudos on-line em segmentos específicos, em geral de classes A/B/C, mas não na base da sociedade. Isso vai mudar, decerto, mas levará alguns anos. As pesquisas de opinião pública no Brasil  ao contrário de presas à “nostalgia”, avançaram no tempo, e frequentemente utilizam métodos híbridos como nos Estados Unidos. Aliás, por falar no berço das pesquisas e das redes sociais, embora naquele país sejam comuns pesquisas eleitorais on-line, nenhuma das quatro organizações rankeadas com grau A+ pela qualidade do seu desempenho no site 538, de Nate Silver, utiliza essa metodologia. As quatro operam entrevistas phone live, telefônicas com entrevistadores humanos. Tampouco o uso das ciências sociais computacionais recomendado pelo autor é novidade para ninguém no setor. As redes sociais são vasculhadas pelos institutos. Índices são estabelecidos com base nas suas interações. Levantamentos de tráfego de pessoas e automóveis realizados por sinais de telefonia celular com uso intensivo de GPS. E boa parte dos projetos de pesquisa de mercado dos mesmos institutos que desenvolvem as pesquisas eleitorais usam estratégias “double track”, associando a investigação do comportamento nas redes à busca das opiniões dos consumidores. 

Da mesma forma, a “guinada qualitativa” demandada no artigo já ocorreu há muito tempo. Afastando o dilema entre Cila e Caribde, números sem juízos ou juízos sem números. Todos os principais institutos contam com departamentos qualitativos, o que parece desconhecido pelo autor, com profissionais de sociologia, psicologia e antropologia, conduzindo estudos presenciais e on-line cujos resultados alimentam hipóteses testadas quantitativamente. E vai-se além. Eu mesmo tive oportunidade de introduzir anos atrás no país a metodologia Quali-Quanti, unindo as duas dimensões, por meio de baterias de 200 a 400 entrevistas, com roteiros semiabertos, para pré-teste de comerciais.

Lemos adverte que “só sobreviverão as instituições que sejam mais parecidas com a língua que com os dentes”. Esqueceu, contudo, que a sabedoria elementar recomenda evitar, pelo uso ansioso do verbo irrefletido, que os dentes mordam a língua.

Por fim, o que explica esse mergulho desajeitado em um universo com o qual demonstra tão pouca familiaridade, passando a nítida impressão de que foi vítima de um aprendizado auricular enviesado?

Dois terços do artigo estão voltados ao diagnóstico da liderança da extrema direita no universo digital brasileiro, ancorada em narrativas articuladas na cultura e subculturas das plataformas. Essa é a verdadeira preocupação do autor. Legítima e procedente, diga- se de passagem. Não há como discordar da constatação de que o centro e a esquerda não têm se mostrado em condições de confrontar à altura a vanguarda ideológica e comunicacional dos seus antípodas.

Quanto às pesquisas, há muito que fazer, menos desmerecê-las. São fundamentais para o processo democrático. Governos e outras instituições não podem prescindir delas. Das informações e avaliações da repercussão que suas ações e omissões despertam na população. E a sociedade, como se orientaria sem mirar-se periodicamente nesse espelho? Por tudo isso, entidades como a ABEP, ABRAPEL E ABCP cogitam se debruçar após as eleições sobre os resultados, métodos e  técnicas utilizadas na atual temporada eleitoral, incorporando nessa reflexão as opiniões e cobranças dos críticos. Tal como a entidade dos pesquisadores norte-americanos (AAPOR) faz a cada ciclo de eleições. Certamente, há muito a ser melhorado, aperfeiçoado, atualizado. O que exige uma boa dose de autocrítica. Essa é a essência da atividade científica. Não parar jamais. Questionar-se sempre. Não se satisfazer nunca com o conhecimento alcançado.

TERMÔMETRO DA CAMPANHA IPESPE/ABRAPEL: PRIMEIRA RODADA DO SEGUNDO TURNO (11/ OUTUBRO) 

Antonio Lavareda*

1. DISPUTA APERTADA, COM LULA À FRENTE

Ele tem cinco pontos a mais que Bolsonaro na questão espontânea (47% X 42%); e sete pontos a mais na pergunta em que os nomes dos candidatos são citados (50% X 43%). Quando computadas exclusivamente as intenções de voto estimuladas nos dois candidatos, excluídas as respostas “Branco/ Nulo” e “Não Sabe/Não Respondeu”, a distância entre eles se amplia para oito pontos (54% X 46%). Lula obteve apoio maior que o adversário entre os eleitores de Simone ( 55% X 16%) e também, com margem mais estreita, entre os de Ciro (44% X 36%). Mas, como vimos no primeiro turno, dado que a pesquisa não consegue obter dos entrevistados a real disposição à abstenção – que no 2o turno, quatro anos atrás, foi de 21,4% do total do eleitorado –  foi inserido um cruzamento que excluiu os 18% que têm pouco ou nenhum interesse no pleito, o que teoricamente pode sugerir  maior predisposição ao não comparecimento. Resultando daí um placar de 51% X 47% dos votos totais, 2% de B/N, e 01% de Não Sabe/ Não Respondeu. A distância registrada no momento confere a  esse segundo turno um  formato diverso  de outras eleições que terminaram com margens mais confortáveis para o líder, considerados os votos totais. A exemplo de 2002 (Lula +17) , 2006 (Lula +16 ) e mesmo 2010 (Dilma +11). E  nos remete à comparação do mesmo com 1989 ( Collor +5 ), e 2014 (Dilma +2).

No quesito de probabilidade, no grau de “certeza do voto”, o intervalo entre os candidatos é de seis pontos (47%,Lula  x 41%, Bolsonaro), enquanto a diferença entre os percentuais de rejeição respectivos se situa em quatro pontos (49%, Bolsonaro X 45%, Lula). Por óbvio, esses intervalos desenham os resultados das intenções de voto. Dos que pretendem votar em Lula, 91% rejeitam Bolsonaro, e 6% afirmam que “poderiam votar” no atual presidente. Reciprocamente, entre os eleitores de Bolsonaro, 94% rejeitam Lula, e apenas 4% dizem que “poderiam votar” no ex-presidente.

3. INTERESSE MAIS ELEVADO

Nesse segundo turno, chega a 81% o montante dos que declaram ter “muito ou algum interesse” na eleição. Na esteira desse numero, aumenta para 31% o percentual dos que afirmam que participam ou participarão da campanha. Chama atenção a diferença entre a disposição à participação de lulistas (26%) e de bolsonaristas (41%). Maior que a registrada segundo o grau de interesse: 83% nos eleitores de Lula, e 88% entre os de Bolsonaro. 

4. IMPRENSA, PROPAGANDA E REDES SOCIAIS

Lula leva vantagem no noticiário de TV e Rádio (+16); Jornais, Portais e Blogs (+17); e na propaganda de TV e Rádio (+10). Bolsonaro predomina nas Redes Sociais (+3) e no WhatsApp (+3).

5. AS MELHORES PROPOSTAS 

Bolsonaro ganha por larga margem (+51) no item melhores propostas para os Empresários, e quase empata (-1) quanto às melhores propostas para as Famílias. Nas demais, Lula alcança uma vantagem significativa: Trabalhadores (+18), Aposentados (+13) , Mulheres (+11), Idosos (+11), Jovens (+9). 

6. VOTO ATRAI APROVAÇÃO DO GOVERNO, COM EXCEÇÃO DA PANDEMIA

Muitos analistas se surpreenderam com a expressiva melhoria da Aprovação, e da percepção do Rumo da Economia nesse início de segundo turno. Aqui vale uma observação. Nessa fase, inverte-se em grande medida a relação de causalidade entre Avaliação e Voto. Normalmente a primeira dita a segunda, mas agora, em meio a campanha super polarizada, é a segunda que assume o comando. O eleitor com viés de consistência escapa à dissonância cognitiva e elogia o desempenho do candidato no qual vai votar, seja por real preferência, seja por rejeição ao adversário. A aprovação de Bolsonaro evoluiu cinco pontos, chegando a 41%,  com a desaprovação recuando igual valor, situada em 52%. Movimento quase igual ao que se verificou em direção inversa quanto a Lula, cuja Aprovação recuou seis pontos, para 50%, com a Desaprovação evoluindo o mesmo, para 43%. Na percepção da Economia, o “Caminho Certo” foi apontado por 43% (crescendo oito pontos) e o “Caminho Errado”, diminuindo sete pontos, para 49%. Mas chama atenção o fato de que no que concerne à Pandemia, a cristalização das opiniões quase não foi afetada. A aprovação específica do desempenho de Bolsonaro avançou apenas dois pontos, para 39%, enquanto a desaprovação à conduta do seu governo na crise sanitária permaneceu em 59%. 

7. AGENDA SOCIAL: A PRIORIDADE CONTINUA

Os temas Sociais (61%) são citados como os mais urgentes para o próximo Presidente dar atenção, ao passo que as questões Econômicas  vêm em um distante segundo lugar(26%). Vindo depois  Corrupção (5%), Violência (4%), e Meio Ambiente (1%). Na agenda social comparecem, pela ordem, Educação, cujo peso cresceu quatro pontos, atingindo 30%; Saúde, que continua mencionada por 21%; e Fome/Miséria que também aumentou um ponto, com 10% das menções. Na econômica, vem à frente a inflação com 13% (recuando quatro pontos), o Desemprego, que também recuou dois pontos, e o item Salários, que evoluiu um ponto. Interessante observar que Lula lidera por onze pontos entre os eleitores que priorizam o Social, e por quatorze em meio aos que conferem maior urgência à agenda Econômica. 

* Sociólogo e Cientista Político – Instagram: @lavareda_antonio / Twitter: @lavaredaantonio