[Iuri Pitta] Hoje o Índice CNN faz uma primeira análise dos perfis dos pré-candidatos nestas eleições municipais, sejam eles prefeitos e prefeitas que já disputam o novo mandato ou sejam desafiantes aos atuais gestores. Por isso eu chamo Antonio Lavareda, já junto comigo, aqui na tela para gente trazer nossa primeira arte a fim de quantificar, começar a entender por que o favoritismo médio dos candidatos à reeleição é tão visível na comparação com os opositores e esta é a pergunta que eu te jogo, já dando as boas-vindas, Lavareda. Por que é tão difícil enfrentar os chamados incumbentes quem já está no cargo?
[Antonio Lavareda] Olá Iuri, e como você comentava já nesse momento da campanha, ou seja, nós estamos a bastante tempo da eleição, como sempre lembramos, você tem uma diferença de 12 pontos dos incumbentes, na média, sobre aqueles principais desafiantes. Por que é tão difícil a tarefa do desafiante? Sobretudo por três motivos, três fatores que ajudam o nosso espectador a entender esse favoritismo do prefeito ou da prefeita que sentado ou sentada na cadeira, disputa a eleição. O primeiro deles é uma questão do timing.
A campanha só vai começar mais adiante, há toda uma fiscalização dos tribunais regionais eleitorais com relação ao cumprimento dos prazos legais estabelecidos, mas de fato a campanha do incumbente começou há muito tempo, em alguns casos desde o início do seu mandato. O incumbente se expõe diariamente, ele desfruta então de uma taxa de conhecimento bem maior do que dos seus competidores, está nas ruas o tempo todo. Então, o primeiro fator é o timing, o tempo. A campanha de incumbente começa bem antes dos adversários. O segundo fator, também relacionado obviamente a incumbência, é o volume de recursos, no sentido mais amplo, que o incumbente tem ao seu dispor. O Prefeito tem o controle da caneta, como se diz popularmente, assim as políticas públicas, o anúncio dessas políticas, a propaganda das ações administrativas, tudo isso o leva em última instância a avançar em popularidade, mais popularidade, mais intenção de voto. O incumbente com as coligações de apoio nas câmaras municipais consegue, também, maiores coligações para a campanha eleitoral, ou seja, através disso mais tempo de televisão e rádio.
Aí nós chegamos no último fator, que vai ser bastante importante no decorrer das campanhas, grandes coligações geram grande fatia de tempo de televisão de rádio, nos municípios em que há horário eleitoral gratuito. Na campanha municipal, para se ter uma ideia, um candidato a prefeito com a mesma coligação de um candidato presidencial, por exemplo, terá duas vezes e meia pelo menos mais tempo do que o candidato a presidente. E por que? O espectador vai se perguntar. Porque temos a mesma fatia de tempo reservada à propaganda nas eleições gerais e nas eleições municipais, sendo que nas municipais competem apenas duas categorias de candidatos – prefeitos e vereadores, ao passo que nas eleições gerais são cinco categorias para dividir o mesmo espaço: presidente, senadores, governadores, deputados federais e deputados estaduais.
O que foi dito de forma sintética nos ajuda a entender a chamada vantagem do incumbente nessas eleições municipais
[Iuri Pitta] Além de destacar e conseguirmos medir, mensurar esse favoritismo dos prefeitos que devem disputar um novo mandato, como o Antonio Lavareda estava nos explicando, o IPESPE Analítica também fez um mergulho profundo em outros dados que a gente têm à disposição para a gente estudar e entender o perfil dos principais nomes das disputas nas capitais até esse momento. Separamos aqui três pontos na nossa tela. Três recortes bastante importantes: a questão de idade, de educação e de gênero. Em geral os candidatos à reeleição são pouco mais experientes e com mais anos de estudo que os desafiantes, embora a diferença seja pequena, queria jogar esse olhar. Primeiro, Lavareda, na questão de idade e de tempo de estudo para depois nos debruçarmos sobre a terceira parte da nossa arte, mas queria te ouvir primeiro sobre essa comparação dos incumbentes com os desafiantes. São um pouco mais velhos e uma fatia um pouquinho maior deles completou o ensino superior, em comparação com os desafiantes.
[Antonio Lavareda] Isso significa, a olho nu, no que concerne a idade dos que disputam a eleição, que o prefeito ou a prefeita, que está no cargo, tem um pouquinho mais de quilometragem de estrada. Pelo menos quatro anos a mais, o que na política significa a possibilidade de ter arrecadado maior experiência e com essa experiência maior relacionamento que vai ser importante na articulação política, sobretudo. No que diz respeito à formação educacional, você vê que esses candidatos à reeleição tem aí, 93% deles, uma formação de terceiro grau, então também no total, no conjunto, eles têm mais escolaridade que os desafiantes, o que não deixa de ser, embora não seja fundamental, obviamente, mas não deixa um recurso, que os diferencia positivamente, a seu favor nesse caso.
[Iuri Pitta] Ainda estamos com essa arte porque agora eu quero me debruçar num ponto ali do perfil demográfico, nesse terceiro ponto para chamar atenção. A questão de gênero mais uma vez, Lavareda. Mais um indicador mostrando o predomínio dos homens em relação às mulheres. Aqui a gente não fez a divisão entre candidatos à reeleição e desafiantes porque o cenário é mais ou menos o mesmo. Menos de 2 mulheres a cada 10 nomes que disputam aparecem nas pesquisas monitoradas pelo índice CNN Lavareda.
[Antonio Lavareda] Como já temos tratado, digamos, a vergonha brasileira, ou seja, essa desigualdade de gênero brutal do que diz respeito à representaçãopolítica. Novamente, para se ter uma ideia, isso aí, vamos chamar, a eleição “a preço de hoje” a competição “a preço de hoje”, ainda estaria melhor do que o resultado da eleição de 2020, quando tivemos somente uma mulher nas 26 capitais. Esse número também não é diferente do número de vereadores eleitos, quer dizer: o número de homens e mulheres vereadores eleitos em 2020. Naquela eleição, houve 33% de candidatas mulheres à vereança, porque é um requisito legal então os partidos vão lá e inscrevem essas candidatas, mas se elegeram 83% de homens vereadores e apenas 17% de mulheres. Mais uma vez fica estampado que esse modelo de voto proporcional, de lista aberta, é um modelo praticamente intransponível para termos uma maior presença de mulheres nos parlamentos. Para se chegar a uma representação de 1/3 pelo menos de mulheres, será um caminho extremamente difícil.
[Iuri Pitta] Ainda é uma jornada com muito tempo e que não vai se mudar sozinha por vontade própria, necessário também se rever os critérios e as regras do jogo. Por fim, vou chamar a nossa última tela de hoje. Quero mostrar o perfil político profissional dos candidatos entre os líderes e vice-líderes nas principais disputas, ou seja, que cargo que essas pessoas ocupam. Sempre houve esse predomínio de deputados federais e prefeitos Lavareda? Ou é possível perceber alguma diferença hoje em relação a disputas passadas?
[Antonio Lavareda] É interessante, Iúri, quando você observa esses dados e quando eu me deparei com o primeiro levantamento que IPESPE analítica fez da biografia dos candidatos, dos pré-candidatos, na verdade, porque as candidaturas só vão estar definidas com as convenções obviamente. Mas eu dizia, afora os prefeitos ou ex-prefeitos que são candidatos, esses percentuais de deputados federais que arredondamente são 27%, e de deputados estaduais, de forma arredondada, 17%, são extremamente parecidos com os números que apresentei num livro publicado lá atrás, em 2009, Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais. Nele, levantei o perfil de prefeitos eleitos de meados dos anos 90 até 2010. E o que é que a gente tinha ali como carreira , natural, dos prefeitos das capitais? 28% eram deputados federais ou ex-deputados federais. Número que quase coincide com os atuais 27%, e 20% eram deputados estaduais, bem próximo aos atuais 17% em termos de candidatos. Ou seja, na velha margem de erro é quase a mesma coisa. Mudou muito pouco, mudou quase nada.
[Iuri Pitta] E o que quanto isso reforça também essa conexão das eleições municipais com as eleições gerais, de dois anos antes ou dois anos depois, mas principalmente esse vínculo de prefeitos com os deputados não só federais, mas também estaduais. Este é Antonio Lavareda, sociólogo e cientista político que traz semanalmente comigo uma série de dados e análises aprofundadas nestas eleições municipais. As mais aguardadas e disputadas desde a redemocratização. Você pode rever no canal da CNN, no YouTube, todas as edições do Índice CNN. Com isso, terão o mais completo panorama das disputas nas capitais e maiores cidades do país. Lavareda muito obrigado, sempre um prazer dividir tela contigo aqui. Até a próxima semana!
[Antonio Lavareda] Até a próxima semana, Iuri!
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