Apesar de mais de 90% dos entrevistados em levantamentos dizerem que vão votar, soma de nulos, brancos e abstenções mostra realidade diferente e com efeitos diretos nos resultados
Por Antonio Lavareda, publicado em O Globo – 7/7/2022

Pesquisa eleitoral capta atitudes e intenções de voto. Só as de “boca de urna”, por definição, medem comportamento. Entre uma coisa e outra vários fatores se fazem presentes, com maior ou menor intensidade dependendo da natureza da eleição. Levando, não raras vezes, a que mesmo os levantamentos das vésperas do pleito se distanciem dos números oficiais. Por isso, prognósticos de resultados, como fazem FiveThirtyEight, Politico, e no Brasil o Oddspointer, são uma atividade diferente daquela dos institutos de pesquisa.
Uma das variáveis lembradas acima, muito importante, é a alienação. A soma de votos em branco e nulos mais as abstenções. Em 2018 ela atingiu 27,3% no primeiro turno e 29% no segundo. Mais de 40 milhões de eleitores registrados não votaram em nenhum dos candidatos. E não se imagine que o tamanho desse fenômeno é explicado por eventual delay dos cartórios cíveis na notificação dos eleitores falecidos aos TREs. Isso existe aqui como em qualquer país, porém tem expressão reduzida. Incapaz de explicar os 30 milhões de ausentes.
A abstenção não é antecipada pelas pesquisas por um motivo simples: o voto no Brasil é obrigatório. Ou seja, além de socialmente reprovada, ela confronta a lei. Resultado, mais de 90% dos entrevistados dizem que irão comparecer e, na questão estimulada dos levantamentos, os que pretendiam não votar em nenhum candidato, ou optar pelo branco ou nulo, na última medição somaram apenas 7% no Datafolha, e 5% no IPESPE.
Captação difícil
Qual é a chance de termos em outubro 93% ou 95% de votos válidos sobre o total do eleitorado? Nenhuma. Um significativo percentual de eleitores declara na questão estimulada “intenções de voto” que não se materializarão. Há quem diga que a alienação não faz muita diferença porque se abateria por igual sobre todas as classes e todos os candidatos. Errado. A abstenção costuma ser maior na base da pirâmide social, conforme apontam estudos acadêmicos e como é fácil constatar nas tabulações do recall do voto passado. Então, ela afeta diferenciadamente candidatos cujo apoio esteja mais concentrado nos segmentos de menor renda e escolaridade.
Nas eleições municipais da pandemia, em 2020, com o salto de sete pontos da abstenção, a alienação foi recorde (31%). Agora, numa disputa polarizada, a tendência é que ela aumente ou diminua? Pelo grau de interesse elevado, captado por todas as pesquisas, é mais provável que diminua. Mas em circunstâncias semelhantes os movimentos não foram unívocos em outros contextos. Na última eleição norte-americana o comparecimento aumentou cinco pontos. Na França diminuiu três. Na Colômbia cresceu cinco. E no Chile avançou seis. O certo é que, qualquer que seja o número que tenhamos entre nós este ano, as pesquisas dificilmente conseguirão captá-lo.
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