A inflação, turbinada com a alta recente do preço dos combustíveis, é a maior ameaça para o desempenho do presidente Jair Bolsonaro nas eleições e pode reverter sua recente recuperação nas pesquisas de intenção de voto. A avaliação é do o cientista político e presidente do Conselho Científico do Ipespe, Antonio Lavareda, ao Broadcast Político. Na entrevista, Lavareda avaliou também que candidatos da chamada terceira via só vão ter chance se concentrarem artilharia em Bolsonaro, e não se contrapondo ao presidente e a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao mesmo tempo.
Bolsonaro
Íntegra da pesquisa IPESPE divulgada 27/01/2022
Minha análise sobre a pesquisa está disponível em: https://medium.com/@antoniolavareda/sobre-a-pesquisa-ipespe-divulgada-hoje-27-jan-5fbd950e2878
Íntegra da pesquisa:
Ponto a Ponto com Bia Kicis
A presidente da CCJ na Câmara foi a convidada do programa que debateu os desafios do governo para 2022.
Nova rodada pesquisa XP/IPESPE – 13 a 15 de julho de 2020.
Bolsonaristas mudam estratégia para mascarar esvaziamento de protestos
Grupos passam a atrair menos gente, mas fazem atos mais frequentes em defesa do presidente
Militantes bolsonaristas têm mudado a estratégia para os atos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Brasília. Em vez de grandes manifestações, os organizadores agora optam por eventos menores e mais frequentes.
Eles reconhecem que houve uma mudança de tática, mas negam que seja para mascarar uma perda de base para aglomerações de maior porte.
Fato é que, em termos de números, os protestos perderam força na capital federal. Há, de todo modo, receio de que a pandemia de Covid-19 e a perda de apoio a Bolsonaro resultem em atos esvaziados.
“A gente está considerando que os ataques ao nosso presidente estão sendo feitos de maneira muito sistemática. E a gente percebe a importância de o povo estar nas ruas e mostrar que está com nosso presidente”, afirma Winston Lima, do Movimento Brasil.
“Se a gente espaçar muito, em um mês vai acontecer muita coisa contra o nosso presidente, muitas vezes até de maneira arbitrária.”
Comandante Winston Lima, como é chamado o militar reformado, acrescenta que os protestos mais frequentes, mesmo que menores, apresentam impacto maior. Isso porque seria possível manter na mídia e nas redes sociais o clima de mobilização.
O militante reconhece que o número de pessoas nos atos pode ser menor, mas defende que isso também ocorre porque muitos não descem dos carros, por causa do coronavírus. Ele defende que de 15 mil a 20 mil veículos participam das carreatas –número que não pode ser confrontado pois não há medição oficial.
Este fim de semana será o quinto seguido com manifestações em Brasília. O roteiro será o mesmo: começa com uma carreata e depois segue-se um ato na região da Esplanada dos Ministérios.
Os protestos agora semanais também em geral terminam com algumas centenas de pessoas em frente ao Palácio do Planalto, na esperança de que Bolsonaro apareça para cumprimentá-los. No dia 3, na última participação do presidente, ato com faixas pedindo intervenção militar terminou com jornalistas agredidos.
A Polícia Militar do Distrito Federal informou que não divulga mais estimativas de público em eventos. Imagens aéreas das aglomerações, no entanto, sugerem redução no número de participantes.
Além disso, uma análise dos protestos deixa claro que muitas caravanas presentes nos atos se repetem. Nas últimas semanas, grupos passaram a se estabelecer permanentemente em Brasília. O exemplo mais notório é o 300 do Brasil, que chegou a ter um acampamento em frente ao estádio Mané Garrincha e vem participando de todos os atos.
Um militante também relatou à reportagem que bolsonaristas de diversas partes do país viajaram por conta própria para a capital federal, onde foi criada uma rede de apoio. Dezenas deles são hospedados por moradores de Brasília, a fim de manterem sua militância por período prolongado.
Esses grupos também passaram a figurar no dia a dia do presidente: parte segue até o Alvorada para cantar gritos de guerra por ele e uns poucos ficam a postos para quando Bolsonaro aparece de surpresa na rampa do Planalto.
Especialistas afirmam que Jair Bolsonaro ainda mantém uma base considerável, mas que a fase de adesão ao bolsonarismo ficou para trás.
“Em 2018, nós tínhamos um encontro do bolsonarismo raiz com a classe média, presente no lavajatismo, que resultava numa grande massa de eleitores e nas ruas”
, diz o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco Antonio Lavareda.
Ele explica que essa massa sofreu duas defecções. A primeira resultante do desgaste natural de um governante. A outra, mais expressiva, envolve admiradores da Operação Lava Jato, desiludidos com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.
Três dias após a demissão do ex-juiz do governo, pesquisa Datafolha mostrou que Bolsonaro era aprovado por um terço dos brasileiros.
Além da queda de popularidade, o surto de coronavírus também desestimula a participação em atos públicos.
“Mesmo entre bolsonaristas, a maioria é cautelosa em relação ao tratamento dado ao vírus. No nível pessoal, o medo se sobrepõe”
, diz Lavareda.
Por outro lado, apoiadores do presidente acreditam que o governo se encontra sob intenso ataque, sobretudo por parte do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
“Manter manifestações e carreatas constantes é uma espécie de aviso contra qualquer iniciativa de impeachment”, afirma o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.
Ismael avalia ainda que Bolsonaro perdeu força com as demissões de ministros populares –ele cita também o ex-titular da Saúde Luiz Henrique Mandetta. No entanto, afirma, uma das formas para compensar a situação seria a politização do enfrentamento ao coronavírus.
“Ele tem um jogo político que consegue manter apoio.”
A também organizadora de protestos Meire Cruvinel, por sua vez, diz que os atos mais frequentes se devem à luta para reverter as políticas de isolamento social para evitar prejuízos para a economia.
“Os empresários não estão mais conseguindo ficar com o comércio fechado e está indo todo mundo pra rua, em carreata, solicitando que o comércio seja aberto e que volte, segundo o protocolo de saúde, o mercado econômico”, diz.
Questionada se uma eventual convocação para grandes protestos atingiria o mesmo número de participantes no passado, Cruvinel responde: “Seria muito maior”.
“Os governadores [responsáveis pelas políticas de isolamento social] estão despertando no povo um patriotismo. A fome dói.”
Íntegra do Ponto a Ponto – Aonde vai parar a crise política?
O Jurista Ives Gandra Martins para entender até onde vai a crise política.
Impacto da saída de Moro. Íntegra da pesquisa XP/IPESPE.
O QUE BOLSONARO E MORO GANHAM OU PERDEM COM UM EVENTUAL ‘DIVÓRCIO’
Para analistas políticos, o presidente se equilibra entre duas opções que podem lhe trazer ganhos e prejuízos
Mariana Schreiber para revista Época 24/01/2020 – 18:26 / Atualizado em 24/01/2020 – 18:51
A turbulenta relação entre o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro mais popular, Sergio Moro, que comanda a pasta da Justiça e da Segurança Pública, teve um novo momento de desgaste nesta semana com a sinalização de que o ministério poderia ser desmembrado.
Após a reação negativa em sua própria base eleitoral à ideia, que reduziria os poderes de Moro, o presidente recuou, mas sem rechaçar completamente a possibilidade de criar um ministério exclusivo para a Segurança Pública no futuro.
“A chance [de tirar a Segurança Pública do ministério de Moro] no momento é zero. Tá bom ou não? Tá bom, né? Não sei amanhã. Na política, tudo muda, mas não há essa intenção de dividir [o Ministério da Justiça]. Não há essa intenção”, disse a jornalistas nesta sexta-feira (24), ao chegar a Nova Délhi, para um vista à Índia.
Para analistas políticos, o presidente se equilibra entre duas opções que podem lhe trazer ganhos e prejuízos: manter Moro como um ministro com muito poder e visibilidade, correndo o risco de ser desbancado por ele como candidato preferido dos apoiadores do governo na eleição presidencial de 2022; ou desidratar Moro e assumir o risco de uma demissão do ministro, atraindo contra seu governo a ira dos eleitores “lavajatistas”, fiés seguidores do ex-juiz da Lava Jato.
“O que estamos vendo é uma TPE, tensão pré-eleitoral”, brinca o cientista político Antonio Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Moro constantemente nega ter pretensão de disputar a eleição presidencial e, em entrevista ao programa Roda Vida na segunda-feira, chegou a dizer que apoiar a reeleição de Bolsonaro é o “caminho natural” para os ministros do governo. Hoje, porém, é grande a desconfiança no mundo político de que a hipótese esteja descartada.
“Quando Moro aceitou abandonar a magistratura para entrar no Ministério da Justiça, ele obviamente abraçou a política. Com a popularidade que tem, é praticamente impossível para um ser humano não ser mordido pela ambição da mosca presidencial”, afirmou Lavareda.

Segundo o professor da UFPE, a eleição de 2018 foi, no linguajar da ciência política, uma “eleição crítica”, ou seja, um pleito que desarrumou todo o quadro partidário, gerando grande expectativa em relação à eleição seguinte.
Ele notou que a desarticulação atingiu em especial a centro-direita brasileira, enquanto o PT conseguiu “a duras penas” se manter como principal força da esquerda. Por isso, disse, é no campo eleitoral do presidente em que se abre com mais antecedência a disputa em torno das candidaturas eleitorais.
Nesse cenário disputado, em que também despontam como possíveis candidatos da direita ao Palácio do Planalto os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), e o presidente do Novo, João Amoedo, o professor da UFPE considera que Moro e Bolsonaro têm mais a perder do que a ganhar se decidirem se separar.
Para Lavareda, Moro teria de apresentar “justificadas razões” para deixar o governo depois de ter abandonado a posição de juiz da Lava Jato para ser ministro. Isso, notou o professor, necessariamente o colocaria na oposição ao governo, ainda que no campo da direita.
“Moro se beneficiaria da condição de opositor do governo Bolsonaro? Eu suspeito que não, pois no campo da oposição já há outros atores muito mais bem instalados do que ele. E o Bolsonaro se beneficia provocando uma saída do Moro? Longe disso, porque o Moro é um ativo, é um asset da imagem do seu governo”, analisou.
“Como acredito na racionalidade de ambos, creio que vão continuar essa relação às vezes idílica, às vezes conflituosa. Para usar a metáfora que o presidente gosta, é um tipo de namoro de tapas e beijos”, acrescentou.
MORO QUASE FOI DEMITIDO EM AGOSTO, SEGUNDO LIVRO
Um dos momentos em que os “tapas” esquentaram ocorreu em agosto, quando Bolsonaro quase demitiu Moro, segundo relato da jornalista Thaís Oyama em seu livro recém-lançado: Tormenta — O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos.
Naquele momento, Bolsonaro teria ficado extremamente irritado com um pedido de Moro ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, para rever sua decisão de suspender centenas de investigações e processos no país iniciados a partir do compartilhamento de informações da Receita Federal e do antigo Coaf (hoje renomeado para Unidade de Inteligência Financeira).

A movimentação desagradou Bolsonaro porque a decisão de Toffoli havia atendido a um recurso de um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), paralisando a investigação contra ele por suposto esquema de “rachadinha” (desvio de recursos por meio da retenção de parte dos salários de servidores) em seu antigo gabinete de deputado estadual do Rio de Janeiro.
Naquele momento, também causou desgaste na relação a ameaça de Bolsonaro de intervir na Polícia Federal e trocar o diretor-geral, Maurício Valeixo, escolhido por Moro. Segundo Thaís Oyama, o presidente recuou e decidiu recompor com o ex-juiz depois de ouvir o alerta do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional: “Se demitir o Moro, seu governo acaba”.
Após a publicação do livro, o presidente rebateu as informações e as classificou como “fake news”.
Outra fonte de desgaste entre os dois tem sido o desentendimento em torno de matérias aprovadas pelo Congresso, como a criação do juiz de garantias, que Bolsonaro não quis vetar, apesar da campanha de Moro nesse sentido.
‘MORO DEVE CONTINUAR ENGOLINDO SAPOS’
O cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP), disse ter dúvidas sobre se foi positivo para a imagem de Moro ingressar no governo Bolsonaro. Em sua avaliação, ao aceitar o ministério, “pareceu que muitas coisas que ele fez (quando era juiz da Lava Jato e condenou importantes políticos tradicionais, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) estavam ligadas à possibilidade de favorecer esse governo”.
No entanto, agora que já é ministro, Moisés acredita que Moro alimenta, sim, pretensões de concorrer à Presidência e não vai querer abrir mão de uma posição que lhe dá prestígio e visibilidade.
“Tendo aceitado o cargo de ministro da Justiça, enquanto não houver uma ruptura muito radical (como o desmembramento do ministério), ele vai tender a continuar engolindo sapos, porque o cargo é muito prestigioso. Não há a menor dúvida em relação a isso”, afirmou.
“Tirar a área de Segurança e a Polícia Federal do Ministério da Justiça seria muito mais grave do que outros momentos de discordância entre os dois. Compromete qualquer projeto que o ministro tenha de efetivamente combater a corrupção e a criminalidade”, ressaltou.
O profesor da USP acredita que Bolsonaro recuou, ao menos por enquanto, da ideia de dividir a pasta, para tentar manter o apoio dos “lavajatistas” a seu governo.
No entanto, o professor acredita que o prestígio do presidente com o grupo já está desgastado, diante do escândalo envolvendo seu filho Flávio e das noticiadas tentativas de interferir na Polícia Federal.

INDICAÇÃO AO STF PODE UNIR INTERESSES
Lavareda considera que Moro pode acabar parecendo “desleal” para a sociedade caso decida concorrer à Presidência contra Bolsonaro. Além do risco de parecer um “traíra” mais à frente, o prejuízo que o ex-juiz pode ter se romper agora com o presidente é fechar as portas para uma indicação a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro poderá apontar um ministro em novembro, quando o decano da Corte, Celso de Mello, completará 75 anos e será obrigado a se aposentar. O presidente sinalizou que indicará um jurista “terrivelmente evangélico” para a vaga, o que não é o caso de Moro.
No entanto, uma segunda vaga será aberta em julho de 2021, quando o ministro Marco Aurélio também se aposentará.
Se Moro aceitar uma indicação ao Supremo e seu nome for aprovado pelo Senado, ele abriria mão de uma candidatura presidencial em 2022 — não faria sentido entrar na Corte para renunciar meses depois e disputar a eleição.
“No horizonte de Moro, há várias possibilidades e uma delas é a de uma vaga no STF, mas isso vai depender das condições no momento em que a vaga for aberta e precisa ser negociado com o Senado”, notou Lavareda.
“Isso é um movimento disponível para o presidente Bolsonaro e para Sergio Moro. Num determinado momento, mais adiante, pode até ser um movimento de confluência de interesse dos dois”, ressaltou o professor da UFPE.
Íntegra da pesquisa XP/IPESPE de janeiro
























Maristela Basso no Ponto a Ponto
Professora de direito internacional da USP conversa com a bancada sobre política no mundo, em especial na América Latina.
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