ABC sedia debate sobre o resultado das eleições presidenciais

O evento “Eleições Presidenciais: Análise e Prospectivas”, coordenado pelo professor José Murilo de Carvalho, acontecerá no dia 14 de novembro, de 13h15 às 18h10, na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Com a eleição do futuro Presidente do Brasil, especialistas se reunirão para discutir sobre os novos representantes escolhidos no processo eleitoral e refletir sobre as implicações dessas mudanças no futuro próximo.

A abertura do debate ficará por conta do presidente da ABC, Luiz Davidovich, e do Acadêmico José Murilo. A atividade será realizada em duas sessões: análise eleitoral e prospectiva.

Da primeira sessão participarão os cientistas políticos Antonio Lavareda, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Argelina Maria Cheibub Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj).

Na segunda sessão, integrarão a mesa o Acadêmico e cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (UFRJ), Sergio Abranches, cientista político e jornalista da CBN, e o Acadêmico Edmar Bacha, economista do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Graças (Iepe-CdG).

O evento é gratuito e aberto ao público, mediante inscrição. Sujeito à lotação do auditório.
Haverá também transmissão ao vivo através da página da ABC no Facebook.

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Entre brigas, bolhas e boatos, medo e raiva dominam eleitores

Segundo Datafolha, 72% dos eleitores se dizem desanimados; 74%, tristes; 81%, inseguros.

Francesca Angiolillo Folha de Sao Paulo

Quando comenta os sentimentos obscuros que cercaram os brasileiros neste processo eleitoral, a psicóloga Débora Salomão, 35, diz ter pena de todo mundo.

Na pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (25), 72% dos entrevistados se disseram desanimados; 74%, tristes; 81%, inseguros. A maioria —51%— disse sentir mais medo do que esperança.

Até o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa falou em medo para justificar o voto em Fernando Haddad (PT), no Twitter, neste sábado (27). 

A compaixão que a fala da psicóloga expressa não é, porém, dos sentimentos mais predominantes na campanha.

Para o cientista político Antonio Lavareda, 67, autor do livro “Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais”, a equação destas eleições opõe, principalmente, medo e raiva.

“Medo sobretudo usado na campanha do PT, medo do que Bolsonaro representa, medo da ditadura etc.”, diz. 

“Do outro lado”, afirma, está a raiva dos governos petistas —“da recessão, do desemprego, da corrupção, mais a raiva por aspectos identitários”.

Folha ouviu sete pessoas ao longo da última semana —três votariam em Jair Bolsonaro (PSL), três em Haddad e uma ainda não se decidira. Todos se enquadraram em algum ponto desse espectro emocional.

Como diz Lavareda, “emoções nunca são unívocas, aparecem num ‘blend’”, uma mistura. A reação de cada um seguirá aquela que prevalecer. 

Eleitor de Bolsonaro, o médico Alberto Antunes, 43, diz se identificar com a raiva “porque a coisa chegou a um ponto que não tem mais nenhuma condição de diálogo”.

Ele lamenta uma campanha “pautada por uma desconstrução moral dos candidatos —o que fez com a esposa, se gosta de homossexual, se não —e não em propostas”.

Débora Salomão, 35, que vota em Haddad, de certo modo concorda. Ela ressalta o papel negativo das redes sociais no debate —ou na ausência dele.

A psicóloga tinha seis anos em 1989, mas diz se recordar das discussões antes da eleição em que Fernando Collor (PRN) derrotou Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Falavam que íamos perder a casa se Lula fosse eleito. Mas a gente estava num campo democrático da conversa na rua, em casa”, conta. 

Ela vê, na bolha das redes, “dificuldade de dialogar com quem é diferente, trocar ideia, talvez mudar o ponto de vista”. “Bolsonaro não se dispor a ir a debates é símbolo-mor” dessa impossibilidade, diz.

Há quem veja na tal bolha o refúgio, como o estatístico Márcio Eduardo Maciel, 37.

Ele diz “não ter ideia de como funciona o submundo do WhatsApp”, a rede que se tornou a maior arma da campanha deste pleito. “Não participo nem do grupo da família.”

Mas, conta, usa Facebook, e lá “a gente vê como se fecha”. 

Maciel enxerga com desagrado a reação das pessoas de bloquearem os que votam no candidato oposto. Mas se diz acovardado, preferindo manter o silêncio fora de casa.

“Fico muito fechado na minha bolha, mais pró-Haddad, tenho medo de conhecer pessoas novas, de falar no Uber.”

Por ser gay, conta, tem muito medo de agressões nas ruas.

Maciel votou em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, por achar que o PT tinha que “curar o desgaste”. No momento, diz, não há outra opção senão Haddad.

A publicitária Eny de Oliveira, 51, afirma que não usa muito WhatsApp, mas chegou a cogitar que estivesse “falando com o espelho” ao ficar restrita às notícias no Facebook. “Todas as minhas informações de campanha vêm de lá, nem leio jornal mais.”

Ela afirma ter desconfiança da mídia em geral e das pesquisas. Considera seus amigos fontes confiáveis, pois são “profissionais qualificados, professores doutores da USP”.

Eny sente medo do partido de Haddad, que, diz, “agravou a corrupção endêmica do país”. 

“O medo que eu mais escuto e também tenho é que o PT acelere o processo do socialismo aqui.” Para a publicitária, uma ditadura de esquerda seria um risco real. 

“Acho que Bolsonaro não tem força para derrubar a democracia, ele é limitado.” 

Já Lula, a seu ver, “é muito perigoso, comanda o país de dentro da cadeia”. Antunes, por sua vez, vê nele uma figura a ser extinta.

Tonica Tavares, 55, e Antonio Amado, 65, são formados em economia e trabalham como corretores imobiliários.

Tavares diz ter “raiva e temor do PT na mesma proporção”. A raiva, diz, é pelos “desmandos e dos investimentos que fizeram fora do país”.

Como Antunes, Tavares e Amado creem que o dinheiro para obras como a ampliação e melhoria do porto de Mariel, em Cuba, com financiamento do BNDES, deveria ter sido empregado aqui.

Associam os investimentos ao pendor que veem no Partido dos Trabalhadores pelo autoritarismo de esquerda.

Para Tavares, “o país iria para uma ditadura de esquerda, já caminha para isso”. Ela diz ter “pânico e pavor absoluto de que o PT continue no poder; mesmo que Bolsonaro seja um desastre”. Por isso, diz que arriscará no novo. 

A raiva de seu colega Amado vem de o PT “não ter coerência, negar o próprio programa”. Ver neles “ódio, rancor, desejo de mandar dá um desconforto enorme”.

Como Tavares, ele prefere a possibilidade do novo, que diz ter podido afluir graças à campanha feita “por mídias alternativas, extremamente baratas e acessíveis”.

Ele e seus companheiros de voto dizem não se sentir influenciados pela profusão de mensagens no WhatsApp e atribuem o filtro à formação. 

Na opinião de Antunes, os mais velhos sofrem mais a “hiperbolização das fake news”.

Na sexta (26), o cineasta Sandro Serpa, 43, postou no Facebook um longo desabafo.

“Eu nunca vou perdoar os que fizeram isso com a minha mãe”, escreveu. “Isso” é o medo incutido, “que não vem do nada, mas de uma campanha generalizada de difamação”. 

Ele conta à reportagem da Folha que a mãe, pedagoga de 70 anos, “se informava pela TV, mas agora acho que é só internet”. 

O eleitor do PT (que, porém, “estaria fazendo campanha pelo Alckmin no meio da rua”) diz que só queria que a mãe não dissesse sim a algo que quer aniquilá-lo por pensar diferente —como pregou Bolsonaro em discurso no último domingo, 21. 

Depois de muita pressão para que a mãe mudasse o voto e de vê-la sofrer, presa na “rede de ódio e desinformação”, ele desistiu e aceitou a escolha. Por amor.

 

 

Eleição só comparada à de 1989

lulacerda.ig.com.br

Perguntado ao cientista político Antonio Lavareda o que caracteriza as eleições de 2018, ele esclarece: “São totalmente diferentes das seis anteriores. Eleições que, na ciência política, são chamadas de “eleições críticas”, que ocorrem em cenários de grave crise econômica, polarização ideológica e emergência de terceiras vias. Nesse caso, um cenário agravado ainda mais pela Lava Jato e pelo impeachment. Nelas, o sistema partidário eleitoral vigente desde 1994 foi, em larga medida, dissolvido, abrindo-se espaço para um sistema novo, mas que demandará algum tempo para ver consolidada sua própria dinâmica. A eleição presidencial deste ano só pode ser comparada à de 1989 (quando disputou Lula X Collor), que também, a seu modo, foi uma “eleição crítica”. E por que pessoas estão tão bélicas? “Está ocorrendo, juntamente, a maior recessão da história, e a eclosão dos escândalos deu lugar a uma atmosfera tomada pela raiva e pelo medo – sentimentos negativos, reforçados e amplificados pelas redes sociais.”

Bolsonaro ganhou a disputa das redes sociais

Por Monica Guglian/Valor 

Nem tempo de TV, nem carreata, nem comício. O primeiro turno da mais eletrizante campanha eleitoral desde a redemocratização foi vencido por um candidato "praticamente virtual". Vítima de uma facada no abdômen em 6 de setembro, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) passou os restantes 30 dias que faltavam da cruzada no hospital e em casa. Mas não deixou um segundo de estar longe dos seus eleitores. "O envolvimento emocional e a fidelidade a Bolsonaro se dá nas redes sociais. Para os apoiadores não importa onde ele está ou que é dito fora delas. A verdade é o que está ali no mundo virtual", diz Fabio Malic, um dos coordenadores do Laboratórios de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic). Bolsonaro soube usar e explorar as redes sociais, dizem especialistas. Elas mantiveram, fidelizaram e ampliaram seu eleitorado, que, segundo estimativas de especialistas, pode garantir a vitória no segundo turno, independentemente do seu desempenho em entrevistas ou debates. "Não há racionalidade nesta eleição. Só amor e ódio. E foi nas redes sociais que esses sentimentos moveram os votos", diz o professor da USP Gaudêncio Torquato.

Ao fim do primeiro turno, Bolsonaro voltou às redes para comentar a sua vitória. Enquanto seus opositores davam entrevistas ao vivo para as emissoras de rádio e TV, ele surgiu em casa e fez uma transmissão pelo Facebook sentado à uma mesa improvisada em frente a dois ventiladores, cujos fios apareciam no meio da tela. Ao lado do economista Paulo Guedes – que não pronunciou uma palavra e nem se mexeu – e de uma jovem que interpretava a linguagem de sinais, ele agradeceu os votos que recebeu. Quem esperava uma mensagem de pacificação, decepcionou-se. Era uma resposta aos eleitores que ao longo do domingo espalharam fotos, vídeos e mensagens, a maioria dando como certa a vitória do capitão reformado no primeiro turno. Embaladas na onda direitista e conservadora e alimentada pela revolta contra a corrupção debitada principalmente na conta do PT, as redes sociais catalisaram e espalharam sentimentos e preferências como nunca antes tinha sido visto. Estrategistas de Marina Silva (Rede), que começou a campanha com 11% das intenções de voto, constataram que ela foi desidratada a ponto de terminar o pleito com a estatura dos nanicos, em oitavo lugar e 1% dos votos. Mensagens em grupos de WhatsApp e Facebook, segundo esses analistas, pediam sem cessar o voto útil contra Haddad e o apoio a Ciro Gomes, levando embora votos de Marina. O decano deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) foi atropelado pelo mesmo fenômeno. Completando seu 11º mandato consecutivo, ele tentou uma vaga no Senado. Não teve nem chance diante dos mais de 4 milhões de votos para o deputado estadual Flavio Bolsonaro (PSL) e dos quase 2,4 milhões de votos para o deputado Arolde de Oliveira (PSD), que ficou em segundo lugar. A dupla deixou para trás o veterano César Maia (DEM) e Lindbergh Farias (PT). "Aqui, além do voto útil pregado pelas redes, enfrentamos a família Bolsonaro em seu território. Fora isso, os eleitores queriam renovação", diz Teixeira. Não foi diferente o que ocorreu com o ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. Com a maior coligação e um tempo recorde na propaganda eleitoral gratuita, Alckmin se preparou para alçar voo, mas não decolou. Aliados que atuaram na campanha dizem que, entre todos os candidatos, Alckmin fez o pior uso das redes. "Foi um erro nosso muito grande. Nossa campanha não percebeu a importância das redes sociais e investiu em soluções analógicas. Ignorou que essa é a comunicação", diz José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela. As redes sociais, segundo o cientista político Antônio Lavareda, foram essenciais para que Bolsonaro mantivesse a fidelidade dos seus eleitores e a imagem anti-PT. "E é essa imensa bolha que se retroalimenta que lhe dá grandes chances de vencer a eleição", diz Lavareda. De acordo com levantamento do Datafolha divulgado na semana passada, a maioria dos eleitores brasileiros (68%) tem conta em alguma rede social – 66% especificamente no WhatsApp. Neste ano de campanha mais curta, o dinheiro foi pouco e o tempo de televisão, breve. O aplicativo de conversa substituiu os demais meios e se tornou uma das plataformas mais importantes do pleito. "Não vivo sem o WhatsApp", diz o vendedor Jurandir Oliveira, baiano radicado em São Paulo e eleitor de Bolsonaro. Entre o eleitorado do deputado, a utilização do WhatsApp é maior do que a registrada pelos seus principais adversários. Segundo o Datafolha, 81% afirmaram usar o aplicativo, contra 59% de Fernando Haddad (PT), 72% de Ciro Gomes (PDT) e 53% de Geraldo Alckmin (PSDB). "A rede social, ainda que em alguns momentos não aumente o número de eleitores dispostos a votar em X ou Y, ela, sem dúvida, se encarrega de manter fiéis os que já decidiram o voto", diz Malic, do Labic. Nas 48 horas que antecederam o dia da votação, especialistas constataram uma espécie de corrida maluca de informações. Valeu tudo. Notícias verdadeiras, invenções e um absoluto descontrole. No Brasil, entre todas as mídias sociais, o WhatsApp é a mais complicada de lidar, diz Malic. Muitos o chamam de "buraco negro" porque é praticamente impossível controlar a disseminação de informação e desinformação que passam pelo sistema, por muitos chamados simplesmente de "Zap". Enquanto em países como a Índia uma informação pode ser compartilhada por cinco grupos, no máximo, no Brasil 20 grupos podem ser usados. "Há muito tempo que alertamos para a necessidade de uma regulamentação mínima que seja. Mas sem sucesso." Com esses ingredientes é muito fácil confundir eleitores principalmente porque, segundo estudos nos EUA, é imenso o componente emocional despejado em cada voto. Dessa forma, à medida em que aumenta o número de informações e mensagens, verdadeiras ou falsas, cresce na mesma proporção a angústia e a ansiedade do desconhecido que acabam por fomentar a desinformação. "No primeiro turno, debates, entrevistas, nada disso teve peso. As estruturas tradicionais dos partidos não funcionaram", afirma o cientista político e presidente da Arko Advice, Murilo Aragão.

Eleições 2018 – Troca de guarda a direita e fim de fidelidades partidárias

Veículo: bbc.com

O primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras sinaliza a dissolução das atuais lealdades partidárias-eleitorais e mostra uma "troca de guarda" na representação da direita brasileira. E a disputa do segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) ainda está em aberto, segundo analistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Bolsonaro teve 46% dos votos válidos e Haddad, 29% – o petista venceu em 8 dos 9 Estados do Nordeste (Ciro foi o mais votado no Ceará) e no Pará.

"De acordo com a literatura da licença política, isso é o que se chama de 'eleição crítica', onde as lealdades partidárias-eleitorais são dissolvidas. E em sistemas miltipartidários como o nosso,

frequentemente há uma substituição na representação dos campos ideológicos", disse o cientista político Antonio Lavareda.

Na prática, segundo o pesquisador, isso significa que houve uma "troca de guarda" no campo da centro-direita, com Bolsonaro ocupando o espaço deixado pelo PSDB.

"Duas coisas explicam isso: a Lava Jato, que atingiu várias lideranças do PSDB e, em segundo e importante lugar, o fato de que o PSDB aderiu ao impeachment e, depois, apoiou o governo Temer, que se tornaria bastante impopular. Foi a conjunção desses fatores que subtraiu ao PSDB a condição de continuar ocupando esse espaço."

O PT, por outro lado, se manteve a duras penas na liderança do campo de esquerda, evitando a substituição pretendida pela candidatura de Ciro Gomes.

"O PT conseguiu se manter, em grande medida, por causa do impeachment, que o reposicionou como oposição. Aí ele conseguiu enfrentar os desgastes que o governo Dilma e a Lava Jato vinham causando. Então, teve um desempenho parecido com 1994."

A atual eleição "rompeu a polarização entre PT e PSDB que já durava 20 anos", e é comparável ao que ocorreu nas eleições de 1989, as primeiras após a redemocratização, segundo a avaliação de Lavareda.

"Em 1989, o PT substituiu Leonel Brizola e o (seu) PDT como principal representante da esquerda, e Fernando Collor de Mello substituiu os partidos mais representativos da direita como PFL e PDS. No centro você teve Mário Covas substituindo a candidatura de Ulysses Guimarães. Foi uma troca de guarda completa."

PT poderia virar no segundo turno?

A possibilidade de vitória de Haddad no segundo turno existe, mas é bastante reduzida, na opinião de Lavareda. Ele relembra que nunca houve virada desse tipo em eleições presidenciais no Brasil, e que "nunca um candidato que teve 47% dos votos no primeiro turno perdeu a eleição".

"O fato de que Bolsonaro empolgou boa parte do eleitorado de maior escolaridade e renda mostra que se ele não tivesse rejeição elevada entre população de até dois salários mínimos e as mulheres, ele ganhava. O pouco que faltou para que ele ganhasse em primeiro turno lhe foi subtraído pelos mais pobres. Mas será um segundo turno disputado."

Segundo o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, tanto Haddad quanto Bolsonaro precisarão "caminhar para o centro" na tentativa de vencer. Mas a eleição ainda está em aberto.

"Essa eleição foi muito marcada por violência política e notícias falsas. Mas ela ainda não está encerrada", disse à BBC News Brasil.

Cortez também vê a "troca de guarda no campo antipetista", mas ressalta que ainda não se sabe como o novo campo da direita irá se organizar politicamente.

"Percebemos que o PSL fez bancadas com números expressivos para o partido, o que mostra que o peso do Bolsonaro se transferiu para diferentes competições. Mas veremos se Bolsonaro vai institucionalizar por via partidária esse apoio obtido nas urnas ou se vai preferir uma construção mais personalista desse antipetismo."

O candidato afirmou, durante a campanha, que não faria alianças políticas que contrariasse seus princípios e que não precisaria fazer "loteamento de cargos" caso se tornasse presidente. O cientista político, no entanto, diz que isso vai ser difícil.

"Vamos ter o teste se de fato essa retórica contra as alianças políticas via se sustentar. Se tem algo que não mudou na política foi a necessidade de gerar apoio qualificado no Congresso para aprovar as reformas constitucionais."

O PSL elegeu mais de 50 deputados federais neste domingo, segundo dados preliminares. Em 2014, apenas um representante havia sido eleito pela sigla. O PT, que havia conseguido 70 assentos na Câmara dos Deputados em 2014, terá uma bancada também superior a 50 deputados – pelas projeções, continuará sendo a maior da Casa. E o PSDB, que teve 53 deputados eleitos nas últimas eleições, teria obtido cerca de 30 assentos.

Bolsonaro chega a 41% dos votos válidos e vantagem sobre Haddad sobe para 16 pontos

Para liquidar disputa no primeiro turno, Bolsonaro precisaria herdar 64% de todos os chamados "votos azuis" (apoio hoje dado a Alckmin, Amoêdo, Alvaro Dias e Meirelles). No segundo turno contra Haddad, situação é de empate técnico.

SÃO PAULO – A dois dias do primeiro turno, a vantagem do líder Jair Bolsonaro (PSL) sobre o segundo colocado Fernando Haddad (PT) na corrida presidencial dobrou. Segundo pesquisa XP/Ipespe, o deputado saltou 8 pontos percentuais em uma semana e agora tem 36% das intenções de voto. Já o ex-prefeito paulistano oscilou positivamente de 21% para 22%, patamar duas vezes superior ao do terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), estacionado em 11% há três semanas. Votos em branco, nulos e indecisos agora somam 12% do eleitorado. O levantamento foi feito nos dias 3 e 4 de outubro e foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o código BR-06509/2018.

No segundo pelotão da disputa, juntamente com Ciro, aparece Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano oscilou negativamente 1 ponto e está 3 p.p. abaixo de seu maior patamar registrado ao longo da corrida. Os ex-governadores estão em situação de empate técnico, no limite da margem de erro, de 2,2 p.p. para cima ou para baixo. Já Marina Silva (Rede) foi de 5% para 4%, menos de 1/3 do que teve em seu melhor momento na disputa. Logo atrás, aparecem o empresário João Amoêdo (Novo), com 3%; o senador Alvaro Dias (Podemos), com 2% – mesmo patamar do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB); e o deputado Cabo Daciolo (Patriota), excluído do último debate, com 1% das intenções de voto. Outros candidatos não pontuaram.

Quando são contabilizados apenas os votos válidos (desconsiderando votos em branco, nulos e eleitores indecisos), Bolsonaro tem 41% das intenções de voto, o que indica que ainda faltariam 9% para que se configure um quadro de vitória no primeiro turno. Isso significa que até o próximo domingo (7), o parlamentar teria que herdar 64% de todos os chamados "votos azuis" (apoio hoje dado a Alckmin, Amoêdo, Alvaro Dias e Meirelles) ou 50% ta soma do campo azul com as intenções de voto de Marina Silva. Neste caso, Haddad tem apoio de 25% dos que declaram voto em algum candidato, seguido por Ciro, com 13%.

No cenário espontâneo (quando os nomes dos candidatos não são apresentados aos entrevistados), Bolsonaro aparece com 33% das intenções de voto, enquanto Haddad tem 16%. Ciro Gomes vem logo atrás, com 9%, seguido de Alckmin, com 4%, Amoêdo e Marina Silva, ambos com 2%. Alvaro Dias, Meirelles e Daciolo têm 1% cada. Neste caso, Bolsonaro tem 48% dos votos válidos e precisaria de 25% dos "votos azuis" ou 20% da soma deste campo com as intenções de voto de Marina Silva. A pesquisa espontânea é útil como ferramenta que mostra o grau de cristalização de apoio dos eleitores a cada candidato.

O levantamento XP/Ipespe também mostrou que, a dois dias do primeiro turno, o nível de interesse pela eleição presidencial chegou a 64% do eleitorado. Agora, 43% dos entrevistados se dizem muito interessados, enquanto 23% afirmam estar mais ou menos interessados no processo. Há um mês, a soma desses grupos representava 52% do eleitorado. A faixa de eleitores que se diz desinteressada com o processo está em 20%, o que pode indicar uma ativação tardia e decisão de voto de parcela relevante durante o sprint final ou até uma tendência de abstenção, o que na prática elevaria as chances de Bolsonaro liquidar a disputa sem necessidade de segundo turno.

Confira os cenários de primeiro turno para a corrida presidencial testados pela pesquisa:

Pesquisa espontânea: sem apresentação de nome dos candidatos aos entrevistados

Pesquisa estimulada: com a apresentação dos nomes dos candidatos aos entrevistados

 

Segundo turno

Foram testados cinco cenários de segundo turno nesta pesquisa. Em eventual disputa entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, o quadro ainda é de empate técnico, mas com o deputado numericamente à frente por 43% a 42%. Em relação ao último levantamento, o parlamentar cresceu 4 pontos percentuais, enquanto o petista oscilou 1 p.p. negativamente. O grupo dos "não voto" agora soma 15%. Em abril, Bolsonaro chegou a contar com gordura de 11 p.p., enquanto na semana passada Haddad apareceu pela primeira vez à frente, com vantagem de 4 p.p., no limite da soma das margens de erro dos candidatos.

Em eventual disputa entre Alckmin e Haddad, o quadro seria de empate técnico, no limite da margem de erro, com o tucano numericamente à frente com 40% das intenções de voto contra 36% para o petista. Votos em branco, nulos e indecisos agora somam 24%. Em nenhum momento o ex-prefeito paulistano liderou as simulações.

No caso de enfrentamento entre Alckmin e Bolsonaro, o cenário também é de empate técnico, com o tucano voltando a aparecer mais forte numericamente, com 44% das intenções de voto contra 42% para o deputado. Brancos, nulos e indecisos somam 15% do eleitorado. A diferença entre os candidatos chegou a ser de 7 pontos percentuais a favor do parlamentar na quarta semana de maio.

Se o segundo turno fosse entre Ciro e Alckmin, o cenário também seria de empate técnico, com o pedetista numericamente à frente por 36% a 33%. Brancos, nulos e indecisos somariam 31% do eleitorado. É a quarta vez que Ciro aparece numericamente à frente na disputa. Na semana passada, ele tinha 4 p.p. a mais que o ex-governador paulista. Em nenhum momento um dos candidatos teve vantagem superior ao limite da soma das respectivas margens de erro, mas na maior parte do tempo Alckmin liderou.

Caso Bolsonaro e Ciro se enfrentassem, o pedetista venceria com 44% das intenções de voto, contra 39% do parlamentar. Brancos, nulos e indecisos somariam 18%. Há cinco semanas, o ex-governador contava com vantagem de apenas 2 pontos percentuais. Ciro chegou a ficar 8 pontos à frente na semana passada. Bolsonaro esteve em vantagem numérica na maior parte do tempo, mas em quadro de empate técnico. Apenas nos dois primeiros levantamentos, realizados em maio, ele vencia com diferença superior à soma das margens de erro.

Rejeição aos candidatos

A pesquisa também perguntou aos entrevistados em quais candidatos não votariam em hipótese alguma. Marina Silva lidera o ranking da rejeição com taxa de 75%, em um salto de 7 pontos percentuais em comparação com a semana anterior. Em um mês, foi um salto de 13 p.p., a maior elevação em repúdio registrada entre os principais candidatos.

Logo atrás aparece Fernando Haddad, rejeitado por 65% do eleitorado – crescimento de 5 p.p. em relação aos percentuais registrados nas últimas duas semanas. O petista é seguido de perto por Geraldo Alckmin, que viu sua taxa subir de 61% para 64% em uma semana.

Já Bolsonaro viu sua rejeição oscilar negativamente em 1 p.p., ficando em 59%. Antes do ataque a facada sofrido em Juiz de Fora (MG) há um mês, o deputado havia alcançado seu maior nível de repúdio entre o eleitorado: 62%.

Ciro Gomes, por sua vez, é repudiado por 58% dos eleitores, contra 55% de Álvaro Dias. O senador, porém, é desconhecido por 22%, contra 5% registrados do lado do pedetista. A trajetória dos índices de rejeição dos principais nomes nas últimas sete pesquisas está na tabela abaixo:

FONTE: XP/IPESPE