A Frente Republicana foi corroída na eleição presidencial, mas implodiu depois das legislativas

Jérôme Fourquet, diretor do departamento de “opinião e estratégias empresariais” do IFOP – (Instituto Francês de Opinião Pública), analisa – em entrevista ao Le Monde – os números de transferência de votos e abstenções por partido no segundo turno das eleições legislativas.

Os representantes eleitos do Rassemblement national (RN – extrema-direita) foram os primeiros a se surpreenderem com a extensão de sua vitória. Como explicar esses resultados?

Estes resultados vêm de longe, fazem parte de uma dinâmica fundamental do RN, que se beneficiou das eleições legislativas como uma espécie de rampa de lançamento. Marine Le Pen obteve 23,15% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial, apesar da concorrência de Eric Zemmour, com seus 7,07%, e esse grande espaço da direita nacional, com 30%, é completamente novo. E, na segunda rodada, sua pontuação de 41,45% contra Emmanuel Macron é um grande evento. Isso significa que os eleitores votaram nela no segundo turno sem tê-lo feito no primeiro e que parte do eleitorado não barrando esse crescimento.

Então, no primeiro turno das eleições legislativas, o RN obteve quase 19% dos votos, um aumento de 5,5 pontos em relação a 2017. Conseguiu assim colocar 208 candidatos no segundo turno, contra 123 cinco anos antes, e aumentar mecanicamente suas chances de vitória. Os lepenistas lideraram este ano em 108 distritos eleitorais, contra apenas dez em 2017: o partido aumentou tanto o número de candidatos presentes quanto o número de candidatos em primeiro lugar, o que prenunciava um resultado bastante favorável. Mas suas pontuações foram ainda maiores do que o esperado.

Como explicá-lo?

Porque o mecanismo da Frente Republicana funcionou muiuto menos, ou de forma muito marginal. O tiroteio, sistematicamente contra qualquer candidato do RN bem colocado no primeiro turno, perdeu muita eficácia – essa é uma das grandes lições desta eleição. Seja duelos com Ensemble! (partido de Macron) ou com a esquerda, o RN teve vitórias divididas com esses agrupamentos, e isso explica sua espetacular vitória. Seus candidatos agora têm chances de vitória comparáveis aos partidos tradicionais. Em 107 distritos eleitorais, o RN se opôs no segundo turno a um candidato do Ensemble!. Ele ganhou 53, ou metade. Em 2017, com aproximadamente o mesmo número de duelos, 104, o RN conquistou apenas 7 vagas.

A erosão republicana é a razão?

De fato. Muitos eleitores de candidatos eliminados não se transferiram para o candidato que enfrentou o RN. No cenário mais comum, duelos entre Ensemble! e o RN, os candidatos da antiga maioria, em média, puderam contar com os votos de apenas 31% – um terço – dos eleitores do Nupes (Jean-Luc Mélenchon). 11% votaram no RN e o restante, 58% se abstiveram, votaram em branco ou nulo. 58% é enorme.

Os mesmos cálculos durante as eleições regionais de 2021 em Provence Alpes Côte d’Azur, onde o candidato apoiado pelo RN tinha boas chances de vencer, mostram que os eleitores de esquerda votaram então mais de 60% no candidato da direita e do centro. A proporção era comparável nos Hauts-de-France, quando a esquerda havia se retirado durante os duelos da direita-RN. Então, durante a eleição presidencial, apenas 45% do eleitorado de Jean-Luc Mélenchon foi para Emmanuel Macron. Hoje, há apenas um terço.

Por detestar o Sr. Macron?

Há, sem dúvida, um sentimento anti-Macron muito virulento entre esses eleitores, este é o primeiro elemento. Então, há menos em jogo em um legislativo do que em um presidencial. Esses eleitores do Nupes dizem para si mesmos: “Não vamos votar em um “governista”, é só um deputado mais ou menos. “Terceiro elemento, mais tático, dizem a si mesmos que votando contra o RN veem um “andador” na Assembleia e dão um tiro no próprio pé se se trata de permitir que Mélenchon vá ao Parlamento. O desejo de privar Macron da maioria prevaleceu claramente sobre a lógica da frente republicana À direita, há outros eleitores órfãos. Nesses duelos do RNEn parece!, eles relataram 41% na maioria, o que não é desprezível, e 26% no RN. Os demais, 33%, se abstiveram. O eleitorado da direita bloqueou assim o RN um pouco mais do que o da esquerda, mas uma parte substancial votou no RN.

E em caso de duelo RN-Nupes?

É também um belo alinhamento de planetas para o RN. Nestes 65 distritos eleitorais onde o RN estava voltado para a esquerda, os eleitorados de ouro ainda estavam à direita, mas também com o Ensemble!. O  La République en marche (LRM) votou muito pouco RN – 1%, quase traço. Mas se 41% votaram à esquerda, 58% se abstiveram: quase seis em cada dez eleitores do LRM, num duelo do Nupes-RN, dizem para si mesmos que está fora de questão votar em um Mélenchonista. Quando o RN enfrenta um comunista, um socialista ou um verde, só vence em 38% dos casos. Mas quando é um “rebelde”, vence em 63% dos casos, sinal de que o eleitorado moderado não se moveu. Os “governistas” diziam para si mesmos: “O Nupese o RN estão fora do círculo republicano, então não votamos”. Para a maioria presidencial, votar contra o RN significa enviar mais um soldado Mélenchonista à Assembleia.

À direita, nesses duelos, 47% dos eleitores votaram no RN, 18% votaram contra e os demais, 35%, se abstiveram. A direita sempre teve mais dificuldade em se acostumar com a frente republicana. Ela poderia votar em um candidato socialista tingido de lã contra o RN. Mas votar em um “rebelde”, um comunista, uma tendência verde de Rousseau, não foi possível. Com diferentes configurações, essas eleições legislativas permitiram que o RN se infiltrasse na Assembleia. A frente republicana não é mais automática. Tinha funcionado até as eleições regionais, tinha se desgastado um pouco, durante a eleição presidencial. Explodiu hoje.